quinta-feira, 29 de março de 2012

Especialistas dão dicas para a publicação de artigos científicos





Agência FAPESP – Editores de revistas científicas procuram trabalhos com resultados inéditos, escritos em inglês claro e conciso e que despertem interesse em seu grupo de leitores. Artigos que abordam temas quentes do momento levam vantagem, pois têm mais chance de serem citados em futuras pesquisas e de contribuírem para aumentar o fator de impacto do periódico. Essas foram algumas das dicas apresentadas por Daniel McGowan, diretor do Grupo Edanz, durante o workshop “How to Write for and Get Published in Scientific Journals”, realizado no dia 16 de março pela FAPESP e pela editora científica Springer. Desde 1990, o número de artigos submetidos para revisão teve um aumento 100% superior ao do número de novos periódicos, segundo dados do Grupo Edanz, empresa de consultoria na área. Com o crescimento da competição, de acordo com McGowan, “o mínimo que os editores esperam é ciência de qualidade e linguagem adequada”. “A pesquisa brasileira é boa, mas vejo dois grandes desafios a serem superados pelos pesquisadores do país: a dificuldade com a língua inglesa e a falta de entendimento de como deve se estruturado um artigo científico. Muitos parecem não saber o que colocar na introdução, na discussão e na conclusão do trabalho”, disse McGowan à Agência FAPESP. Durante sua apresentação no workshop, McGowan explorou o tema e deu exemplos de como estruturar um resumo, como inserir tabelas, gráficos e figuras no texto, como formatar referências e escolher o título e como elaborar uma carta de apresentação ao editor. Deu também dicas sobre o tempo verbal mais adequado nas diferentes situações e recomendou aos cientistas redigir frases na voz ativa e deixar sempre o sujeito da oração perto do verbo. “Grande parte das pessoas que vão ler o artigo científico também não tem o inglês como primeira língua. O que elas desejam é ler rapidamente, apenas uma vez e conseguir entender a lógica do pesquisador”, destacou. Para McGowan, ex-editor associado da Nature Reviews Neuroscience, o primeiro passo para melhorar a qualidade da produção científica é a leitura do maior número possível de artigos publicados. “Isso ajuda o pesquisador a saber se está fazendo as perguntas certas, usando os métodos adequados, interpretando os resultados no contexto apropriado, citando os estudos mais relevantes da área e escolhendo o periódico com o perfil indicado para sua pesquisa”, disse. Como cada publicação tem regras próprias para estruturar o texto e citar referências, a redação do artigo só deve começar após estar definida a revista para a qual ele será submetido. “O pesquisador deve ser honesto ao avaliar o grau de relevância e novidade da pesquisa e escolher um periódico com fator de impacto compatível. Ela traz um avanço incremental ou conceitual? Afeta a vida de uma pequena população ou de milhares de pessoas? Melhora o conhecimento sobre um fenômeno ou apresenta uma nova tecnologia?”, exemplificou McGowan. O pesquisador deve ainda considerar fatores como o perfil do público a ser atingido, o prestígio da publicação e se ela trabalha como sistema de acesso aberto ou assinatura. “Acesso aberto permite alcançar um número maior de leitores e, portanto, gera mais citações. Mas também tem um custo muito maior”, disse. Segundo McGowan, um artigo nunca deve ser enviado a mais de um periódico ao mesmo tempo. “Por outro lado, se um pesquisador demora muito para publicar suas descobertas, pode ocorrer de outro grupo publicar antes. Recomendo, portanto, entrar em contato com o editor caso não receba retorno após seis semanas. Se depois de dois meses ainda não houver resposta, sugiro cancelar formalmente a submissão e só então enviar para outra revista”, afirmou. Outra dica do consultor é relatar no fim do artigo os financiamentos recebidos de agências de fomento ou de outras instituições e empresas, descrever possíveis conflitos de interesse e as limitações do trabalho, como tamanho pequeno da amostra por exemplo. “Os editores percebem quando há falhas ou limitações na pesquisa, mas ainda assim podem publicá-la se os resultados forem interessantes. Não mencionar esses fatores, porém, pode ser um motivo para rejeição”, disse.
Pesquisa brasileira
Na abertura do workshop, o vice-presidente da editora Springer, Paul Manning, contou que o motivo que levou a empresa a abrir um escritório no Brasil foi o crescimento expressivo da produção científica do país. “A Springer surgiu na Alemanha no século 19 e foi para Nova York após a Segunda Guerra, pois era onde a ciência estava acontecendo. Nos anos 1970, fomos para o Japão pelo mesmo motivo. Agora, percebemos que havia muita coisa interessante aqui no Brasil”, disse. A Springer atualmente está presente em 20 países. Segundo dados apresentados pelo diretor da Springer Brasil, Harry Blom, a produção científica brasileira cresce a uma taxa de 17% ao ano – enquanto a média mundial é de 3% – e já corresponde a 55% da produção científica da América Latina. Mariana Biojone, editora da Springer Brasil, apresentou as ferramentas gratuitas oferecidas no site da empresa para apoiar pesquisadores. Uma delas é o Author Mapper, que mostra os temas mais pesquisados do momento e em quais centros. “Isso pode ajudar o cientista a encontrar colaboradores para seu projeto”, afirmou.
As apresentações do evento estão disponíveis em: www.fapesp.br/6848 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Concurso premia apresentações em engenharia de materiais


Notícias
Agência FAPESP – O Institute of Materials Minerals and Mining (IOM3, na sigla em inglês) – associação internacional de engenheiros de materiais – realizará, no dia 11 de junho, em São Paulo, a etapa brasileira do concurso Young Persons’ World Lecture Competition 2012.
O objetivo do concurso é incentivar estudantes e profissionais da área de engenharia de materiais, com até 28 anos, a melhorar suas habilidades de comunicação.
Durante a competição, os participantes deverão fazer uma apresentação de 15 minutos, obrigatoriamente em inglês, sobre um assunto que esteja relacionado à ciência e engenharia de materiais, minerais, mineração e embalagem.
Serão premiadas as apresentações que melhor se dirigirem ao público e escolhido o representante do Brasil na final mundial do evento, que ocorrerá em 5 de julho em Londres, na Inglaterra.
Os três primeiros colocados nas etapas brasileira e mundial receberão prêmios e terão suas despesas de viagem pagas pela organização do evento.
A etapa brasileira da competição internacional será realizada no dia 11 de junho, no anfiteatro da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), localizada na R. Antonio Comparato, nº 218, em São Paulo.
Os interessados em participar do concurso deverão enviar um resumo da apresentação, em inglês, até o dia 18 de maio para o e-mail mariana.perez@cbmm.com.br ou pararita.ferreira@cbmm.com.br.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Composto impede avanço de melanoma


Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Testes pré-clínicos feitos na Universidade de São Paulo (USP) revelaram que um composto extraído da pariparoba (Pothomorphe umbellata), arbusto originário da Mata Atlântica, é capaz de inibir o desenvolvimento do melanoma e impedir que as células tumorais invadam a camada mais profunda da pele e se espalhem para outros tecidos. A molécula, batizada de 4-nerolidilcatecol (4-NC), foi testada em um modelo de pele artificial durante o doutorado de Carla Abdo Brohem, realizado no Departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP) com apoio da FAPESP. A equipe já iniciou a etapa de testes em animais. Os resultados estão em artigo publicado na revista Pigment Cell & Melanoma Research. Segundo Silvya Stuchi Maria-Engler, coordenadora do estudo, o melanoma é a forma mais agressiva de câncer de pele e tem origem nas células produtoras de pigmentos, os melanócitos. Dados da literatura científica indicam que de 20% a 25% dos diagnosticados com a doença morrem. “Se tratado na fase inicial, as chances de cura são altas. Mas quando ele se torna metastático o tempo de sobrevida é curto, em torno de oito meses, pois o tumor é muito resistente às drogas existentes. Medicamentos novos, portanto, são bem-vindos”, disse. O composto 4-NC, encontrado no extrato da raiz da pariparoba, já havia demonstrado em estudos anteriores um potente efeito antioxidante, capaz de proteger a pele dos danos causados pela radiação solar. Essa outra pesquisa, também financiada pela FAPESP, foi coordenada pela professora Silvia Berlanga de Moraes Barros, da FCF-USP. Em 2004, uma formulação em gel contendo extrato de raiz de pariparoba foi patenteada para uso cosmético para prevenção do câncer de pele. Testes posteriores, em culturas de células tumorais, demonstraram que o 4-NC era capaz de induzir a morte celular. “Mesmo que ele não se prove eficaz contra o melanoma nas demais etapas da pesquisa, o composto tem diversas qualidades. Podemos avaliá-lo contra outros tipos de câncer”, disse Stuchi Agora, no modelo de pele em 3D, o 4-NC impediu que as células tumorais migrassem da epiderme para a derme. “A molécula já passou por exames de toxicidade em animais. Se também for aprovadas na avaliação de eficácia, poderá ser testada em humanos”, contou Berlanga.

terça-feira, 13 de março de 2012

Planta tem ação anti-inflamatória em peles sensíveis


Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Velha conhecida da medicina popular, a planta Physalis angulata demonstrou em testes clínicos potencial para se tornar uma grande aliada de pessoas com pele sensível ou intolerante a cosméticos, que podem desenvolver dermatites.Em pesquisa realizada pela empresa Chemyunion Química – fabricante de matérias-primas para a indústria cosmética e farmacêutica – o extrato concentrado do vegetal mostrou ação anti-inflamatória equivalente à da hidrocortisona, mas sem os efeitos adversos dessa última.Enquanto o uso prolongado de corticoides tópicos prejudica a formação de colágeno e torna a pele mais fina e suscetível a lesões, os ativos da P. angulata estimulam a produção dessa proteína e a regeneração celular. “Mesmo pessoas com pele normal podem se beneficiar do efeito antienvelhecimento do extrato”, disse Márcio Antônio Polezel, diretor industrial da Chemyunion. Também conhecida como camapu, juá, balãozinho ou saco de bode, a P. angulata está presente no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste brasileiro, mas se concentra principalmente na Amazônia. Há muito tempo é usada em chás e infusões no combate à asma, hepatite, malária, reumatismo e também como diurético e analgésico. Nos anos 1970, cientistas descobriram que substâncias existentes na planta, batizadas de fisalinas, possuíam ação anti-inflamatória. Estudos posteriores sugeriram que as fisalinas poderiam também ser uma arma contra o câncer, a tuberculose e a doença de Chagas. Com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a Chemyunion começou a investigar em 2006 plantas da biodiversidade que tinham efeito semelhante ao dos corticoides e viu na P. angulata uma boa candidata. “No início achávamos que a ação anti-inflamatória vinha somente das fisalinas, mas descobrimos que no caule e nas folhas da planta – partes usadas na pesquisa – a quantidade dessa substância é pequena. O benefício é proporcionado por fitoesterois, flavonoides e diversas outras substâncias presentes no vegetal”, disse Polezel. Para extrair os princípios ativos das plantas, a indústria cosmética geralmente recorre a solventes como água, álcool etílico, propilenoglicol ou butilenoglicol. “O problema é que essas substâncias permanecem no extrato final e podem causar efeitos indesejados. O álcool, por exemplo, resseca a pele”, disse.
Na tentativa de obter uma matéria-prima pura e com concentração até 10 mil vezes maior de substâncias ativas, a Chemyunion recorreu a um método pouco comum no meio cosmético: a extração com dióxido de carbono (CO2) supercrítico.
“Nós submetemos o CO2 a uma pressão 500 vezes maior que a da atmosfera. O gás entra em um estado chamado supercrítico, intermediário entre o líquido e o gasoso. É então injetado nos reatores de extração, penetra nas células do vegetal e retira os ativos. Quando a pressão é reduzida a 70 atmosferas, o CO2 retorna ao estado gasoso e se separa do extrato, que cai em um coletor”, explicou Polezel. O processo não ultrapassa a temperatura de 50 ºC, o que garante a integridade das moléculas. Além disso, pode ser considerado ecologicamente correto, uma vez que o CO2 é utilizado em ciclo fechado dentro do extrator. O problema é o preço. Enquanto um extrato vegetal pode custar apenas R$ 4 o quilo, cada grama da matéria-prima superconcentrada pode chegar a R$ 170 reais ou até mais, dependendo dos ativos que se busca. “É no mínimo dez vezes mais cara, levando-se em conta a diferença de concentração. Mas não tem o efeito indesejável do solvente e permite dosar com precisão a concentração desejada dos ativos, de forma a se conseguir a eficácia que se busca, o que garante a eficácia”, explicou Polezel.

Superconcentrado
A empresa também desenvolveu um extrato hidroglicólico comum de P. angulata para comparar com o superconcentrado e com a hidrocortisona durante as pesquisas. Os primeiros testes de eficácia e segurança foram feitos in vitro com culturas de células humanas. Em seguida, o efeito dos dois extratos vegetais e da hidrocortisona foi comparado em 33 voluntários entre 18 e 60 anos. “Comprovamos que a P. angulata tem ação equivalente à de corticoides e demonstramos que o extrato superconcentrado é no mínimo 25% mais eficaz no combate à inflamação que a versão hidroglicólica, tendo-se como base o mesmo teor de ativos”, disse Gustavo Facchini, pesquisador do projeto. Os dois tipos de extrato de P. angulata já foram lançados no mercado. O superconcentrado ganhou o nome de Physavie, e o hidroglicólico, de EcoPhysalis. Segundo a gerente de pesquisa e desenvolvimento da Chemyunion, Cecília Nogueira, cerca de dez empresas brasileiras e estrangeiras estão testando ou lançando cosméticos com esse ativo. “O Physavie é um produto premium, para a indústria cosmética de primeira linha. É mais caro, mas vai resolver o problema de quem tem pele sensível em menos tempo, com menor quantidade e sem o risco de efeitos colaterais causados pelos extratos comuns contendo solventes”, disse Nogueira. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

SciELO Brasil mantém liderança mundial entre portais de publicações científicas


Agência FAPESP – A Scientific Electronic Library Online (SciELO) Brasil continua na liderança entre os maiores portais de publicações científicas em formato eletrônico e de acesso aberto e gratuito no mundo. A confirmação foi feita pelo novo Ranking Web of World Repositories, conhecido como Webometrics, que mede a visibilidade de repositórios científicos nos principais mecanismos de busca da internet. A SciELO, resultado de um projeto financiado pela FAPESP em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme), permaneceu na primeira colocação entre os Top Portais de Acesso Aberto no ranking elaborado pelo Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) da Espanha. A coleção selecionada de periódicos brasileiros já ocupava a mesma posição na penúltima edição do ranking internacional, divulgada em julho de 2011.Na avaliação de Abel Parker, coordenador operacional da SciELO, a colocação no ranking de Top Portais da Webometrics é resultado de uma estratégia que vem sendo executada desde o lançamento da SciELO, em 1998, de maximizar sua presença e de seus conteúdos em todos os índices de referência científicos na internet. “Isso mostra o valor que a coleção brasileira de periódicos científicos tem em termos de conteúdo, presença e impacto e representa o reconhecimento do esforço da FAPESP e de todos os parceiros da SciELO para melhorar, cada vez mais, a qualidade da coleção como um todo e de cada um de seus periódicos”, disse Parker à Agência FAPESP. Para elaborar o ranking, o CSIC utiliza como indicadores o número de páginas indexadas das coleções de periódicos em sistemas de busca na web, como o Google, além do número de linksexternos que apontam para o serviço, medidos por uma metodologia desenvolvida pelo Yahoo Site Explorer. Outros indicadores utilizados pelo ranking são o número de artigos nos formatos PDF, Doc e PS, extraídos dos principais buscadores na internet, denominados rich files, e o número de artigos recentes publicados no Google Scholar (uma ferramenta do sistema de busca que permite pesquisar em trabalhos acadêmicos) entre 2006 e 2010. Nesses dois últimos quesitos, a SciELO Brasil obteve, em ambos os casos, a terceira colocação. “A coleção brasileira apresenta uma uniformidade de desempenho nos quatro indicadores e esperamos que esse equilíbrio da presença na internet em termos de dados, números de páginas e de artigos científicos se mantenha nos próximos anos”, disse Parker.“A presença no Google Scholar também vai ao encontro de manter a posição competitiva da SciELO no Webometrics no futuro”, indicou. Além da coleção brasileira, a Rede SciELO emplacou 11 dos 62 portais classificados no ranking.
Coleções bem classificadas
A SciELO Chile, que foi uma das pioneiras a adotar a metodologia e continua sendo, juntamente com a SciELO Brasil, as coleções de referência da rede, obteve a sexta colocação. Por sua vez, a coleção brasileira de saúde pública da biblioteca eletrônica, a SciELO Public Health, coordenada pela Bireme, ganhou duas posições em relação ao penúltimo ranking e conquistou a oitava colocação. Outras coleções da rede SciELO classificadas no ranking foram a da Espanha, em 11º lugar; a da Argentina, em 17º; a de Cuba, em 18º; a do México, que figura pela primeira vez, em 23º; a do Peru, em 27º; da África do Sul, em 31º lugar; a do Uruguai, em 35º; a da Costa Rica, em 40º; a de Portugal, em 45º; e a da Colômbia, em 53º. A coleção Brasiliana, da Universidade de São Paulo (USP), ficou na 46ª colocação no ranking. Na avaliação de Parker, o desafio, agora, é manter a competitividade da rede SciELO, que completa 15 anos em 2013, no ranking Webometrics, dado que há outras coleções “brigando” pela primeira colocação. “A coleção de periódicos da China, que obteve o primeiro lugar no ranking em termos de tamanho e no Scholar, provavelmente será muito competitiva no futuro”, afirmou.