terça-feira, 17 de abril de 2012

Comunidade científica faz recomendações para a RIO+20


Agência FAPESP – O funcionamento do sistema terrestre que viabilizou a civilização nos últimos séculos está ameaçado e o resultado disso poderá ser uma emergência humanitária de escala global, com a intensificação das crises sociais, econômicas e ambientais. As ações amplas e urgentes necessárias para reverter esse cenário só serão viáveis com o estabelecimento de um novo pacto entre a ciência e a sociedade, com maior conectividade entre as lideranças de todos os setores. Essa é a principal conclusão da Declaração sobre o estado do planeta, divulgada nesta quinta-feira (29/03) depois de intensos debates envolvendo cientistas especializados em temas socioambientais, durante a reunião Planet Under Pressure, realizada em Londres (Inglaterra) entre 26 e 29 de março. O documento sintetiza a posição da comunidade científica em relação aos temas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20) e foi elaborado com o objetivo de influenciar a agenda de discussões e as decisões que deverão ser tomadas durante a conferência. A RIO+20 será realizada no Rio de Janeiro entre os dias 20 e 22 de junho. O evento em Londres foi organizado pelos quatro programas da Organização das Nações Unidas (ONU) voltados para a área ambiental: International Programme of Biodiversity Science (Diversitas), International Human Dimensions Programme on Global Environment Change (IHDP), World Climate Research Programme (WCRP) e International Council of Scientific Unions (ICSU)Durante o evento, as intrincadas conexões entre todos os diferentes sistemas e ciclos que governam o oceano, a atmosfera, os sistemas terrestres e a vida humana e animal que depende desses ambientes foram discutidas por mais de 3 mil especialistas em temas como mudança climática, geoengenharia ambiental, governança internacional, futuro dos oceanos e da biodiversidade, comércio global, desenvolvimento, combate à pobreza e segurança alimentar.De acordo com Lidia Brito, copresidente da conferência e diretora da divisão de Políticas Científicas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), na declaração os cientistas reconhecem a complexidade e a urgência dos desafios da atualidade e propõem uma nova visão da ciência em relação à sustentabilidade global.“Temos uma mensagem positiva: com uma forte liderança em todos os setores e com o aproveitamento da crescente conectividade, temos a esperança de que o risco de uma crise ambiental de longo prazo seja minimizado”, disse Lidia Brito à Agência FAPESPSegundo ela, que também é ex-ministra da Ciência de Moçambique, os cientistas apoiam o conceito de economia verde, reconhecendo que, com a globalização, as economias, as sociedades e a sustentabilidade ambiental e social são altamente interconectadas e interdependentes. “Essa nova conectividade é o início do caminho pelo qual a comunidade científica precisa operar. Nós precisamos de uma poderosa rede de inovação envolvendo o Norte e o Sul. Essa abordagem precisa fazer parte do nosso DNA a partir de agora”, disse Lidia Brito. De acordo com a declaração, cresce cada vez mais o consenso na comunidade científica em relação à passagem do planeta para uma nova era – o Antropoceno – na qual muitos processos de escala planetária são dominados pelas atividades humanas. Os cientistas concluem que a sociedade não tem mais condições de adiar a tomada urgente de ações em larga escala. “O tempo é o recurso natural mais escasso de todos. Nós precisamos mudar o curso das coisas de uma maneira fundamental nesta década”, afirmou Lidia Brito.Segundo a declaração, a alta interconectividade da sociedade contemporânea pode ser aproveitada para estimular as inovações em uma velocidade sem precedentes. Mas, para isso, será preciso disponibilizar um acesso mais aberto ao conhecimento, o PIB deverá deixar de ser a única medida de progresso e será preciso estabelecer novos paradigmas de trabalho em cooperação internacional. Para que seja possível uma administração planetária mais eficaz, também será preciso desenvolver novos modos de participação em todos os níveis, lideranças mais fortes em todos os setores da sociedade e maior conectividade entre os que geram novos conhecimentos e o resto da sociedade. Será preciso, ainda, repensar os papéis da ciência, da política, da indústria e da sociedade civil.
Mais informações: www.planetunderpressure2012.net 

Sono irregular aumenta risco de obesidade e diabetes


Agência FAPESP – Má notícia para quem dorme pouco ou em horários irregulares. Uma nova pesquisa indica que a falta de sono ou padrões de sono que contrariam o relógio biológico humano podem aumentar o risco de desenvolver diabetes e obesidade. O estudo, feito por cientistas da Harvard Medical School e do Brigham and Women's Hospital, nos Estados Unidos, foi publicado no dia 11 de abril na revista Science Translational Medicine. Os pesquisadores avaliaram 21 voluntários saudáveis em um ambiente controlado durante seis semanas. Foram regulados fatores como horas de sono, em que período do dia os participantes dormiam, dieta e outras atividades. A ideia foi simular situações que levam ao sono irregular, como turnos de trabalho alternados (diurno e noturno) ou jet lag recorrente. Inicialmente os participantes dormiram cerca de 10 horas por noite. Em seguida, passaram três semanas com média de 5,6 horas dormidas a cada 24 horas, com períodos de sono alternados, de modo a simular trocas de turno. Para terminar, os voluntários passaram os últimos nove dias da pesquisa dormindo períodos normais e à noite. Os cientistas observaram que a interrupção prolongada do sono normal e do ritmo circadiano afetou a produção de insulina nos voluntários, levando ao aumento de glicose no sangue. Em alguns casos, a elevação atingiu níveis considerados pré-diabéticos. Os participantes também apresentaram importante queda em suas taxas metabólicas, que, segundo os autores do estudo, pode ser traduzida em um ganho de peso superior a 4,5 quilos por ano. A boa notícia é que o estudo verificou que os efeitos danosos puderam ser revertidos em grande parte com a volta do sono para padrões normais. Os pesquisadores ressaltam que os voluntários não se exercitaram durante o período do estudo e pretendem avaliar no futuro interações entre sono, dieta e exercícios.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Trabalho de pesquisador brasileiro é destacado na Nature


Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Há mais de 20 anos, o pesquisador Paulo Mazzafera tenta criar uma variedade de café naturalmente sem cafeína e viável de ser cultivada em escala comercial. O trabalho foi destacado na revista Nature do dia 15 de março. Em dois momentos, Mazzafera, professor titular do Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), chegou a acreditar que havia alcançado seu objetivo. O primeiro foi em 2004, quando em parceria com Maria Bernadete Silvarolla, pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), descobriu algumas plantas originárias da Etiópia que, graças a mutações naturais, eram livres de cafeína. Como as plantas eram da espécie Coffea arabica, considerada a de melhor sabor e maior valor comercial, a descoberta parecia promissora. Em publicado na Nature em 2004, o grupo descreveu que as variedades etíopes tinham uma alteração na etapa final do processo bioquímico que transforma a teobromina – substância diurética e levemente estimulante – em cafeína. “Ficamos extasiados. Sabíamos que as plantas encontradas não eram muito produtivas, mas sendoC. arabica achávamos que seria fácil fazer cruzamentos e transmitir essa característica (a ausência de cafeína) para cultivares mais produtivos”, disse Mazzafera à Agência FAPESPMas não foi tão simples assim, pois os cruzamentos faziam com que os descendentes recuperassem sua capacidade de sintetizar a cafeína. A equipe do IAC ainda não perdeu a esperança e mantém a linha de pesquisa com coordenação de Silvarolla. Mazzafera decidiu tentar uma nova abordagem: tratar sementes de C. arabica – de uma variedade comercial conhecida como Catuaí Vermelho – com substâncias capazes de alterar o DNA da planta. Em uma pesquisa financiada pela FAPESP, entre 2006 e 2008, quase 30 mil sementes foram expostas a dois agentes mutagênicos – azida sódica e metano sulfonato de etila –, na esperança de que o gene responsável pela síntese de cafeína fosse afetado em alguma delas. Entre milhares de plantas analisadas, cinco mostraram ser boas candidatas e Mazzafera, mais uma vez, achou estar perto de alcançar a meta. “Fiquei empolgado, pois havia obtido uma variedade potencialmente muito produtiva, como o Catuaí, e sem cafeína.” Mas durante os primeiros testes o pesquisador notou que as flores da planta mutante abriam antes da hora, deixando-a mais suscetível a receber pólen de variedades com teor normal de cafeína. “A polinização cruzada acaba restaurando o teor de cafeína. Para evitar isso, seria preciso isolar a plantação em um raio de 2 quilômetros, o que seria inviável”, contou. A equipe sequenciou o gene da cafeína sintase na planta mutante e verificou que ele estava normal, mas tinha pouca expressão. “Provavelmente, atingimos um fator de transcrição, ou seja, um gene que controla a expressão do gene da cafeína sintase e também controla algum gene relacionado à abertura das flores”, explicou Mazzafera.
Alternativa transgênica
Há três anos, a equipe tenta corrigir o problema por meio de novos cruzamentos. Paralelamente, busca entender melhor o funcionamento do fator de transcrição afetado pelos mutagênicos. “Temos dois bons candidatos. Vamos silenciar esses genes em uma planta normal para comprovar se, de fato, eles controlam tanto a síntese de cafeína como a abertura das flores. Uma segunda etapa seria fazer com que eles controlassem apenas a síntese de cafeína”, explicou Mazzafera. Ainda que obtenham sucesso, os pesquisadores teriam de vencer o tabu relacionado ao consumo de alimentos transgênicos para transformar o resultado da pesquisa em um produto de valor comercial. Grupos de outros países também tentaram, sem sucesso, desenvolver uma planta de café descafeinada por meio de engenharia genética, como apontou a reportagem da Nature. Como o mercado de descafeinados movimenta cerca de U$ 2 bilhões por ano, a busca dos cientistas não dá sinais de enfraquecimento, mesmo com os sucessivos reveses. “Muitas pessoas não tomam café porque não querem sentir os efeitos estimulantes da cafeína e, ao mesmo tempo, acham o gosto do café artificialmente descafeinado ruim”, disse Mazzafera. Isso ocorre porque os processos existentes atualmente para extrair a cafeína removem também outras substâncias do café, como os ácidos fenólicos e clorogênicos. E essas substâncias são importantes para garantir não somente o aroma e o sabor da bebida como também seu efeito antioxidante. “Se conseguirmos criar uma variedade de café sem cafeína que mantenha as demais características do C. arabica, muito mais gente vai passar a tomar café”, opinou Mazzafera.
Novas pesquisas
Enquanto isso não ocorre, o pesquisador se dedica também a melhorar o processo de transformação da cana-de-açúcar em biocombustível. Em um Projeto Temático ligado ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), Mazzafera estuda fatores ambientais que influenciam a síntese de lignina na planta. “Um dos fatores que dificultam a transformação do bagaço da cana em etanol de segunda geração é a lignina”, explicou. A substância é responsável pela rigidez, impermeabilidade e resistência dos tecidos vegetais, mas também dificulta a fermentação da celulose. “As plantas não sobrevivem sem lignina, mas talvez seja possível modificar a substância ou reduzir seu teor. A ideia é tornar o bagaço mais digerível para os microrganismos ou tornar mais fácil a extração da lignina por outros processos químicos”, disse Mazzafera. Em outro projeto recentemente aprovado em uma chamada da FAPESP e da Agilent Technologies, Mazzafera e sua equipe vão estudar como a variação de temperatura e as altas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera influenciam a síntese de lignina em duas espécies de eucalipto. “A Eucalyptus globulus, nativa de regiões frias, tem um rendimento maior de celulose do que aEucalyptus grandis, espécie que existe no Brasil. De alguma forma o clima altera a estrutura da lignina da planta. Nosso objetivo é fazer com que a E. globulus consiga se adaptar a climas mais quentes, o que interessa ao mundo inteiro no atual contexto de aquecimento global”, disse. 

domingo, 1 de abril de 2012

Pesquisa vai mapear produção acadêmica sobre música no Brasil


Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Mapear os principais trabalhos sobre música realizados no Brasil desde o fim dos anos 1980 é o objetivo do projeto "A pesquisa acadêmica na área de música: um estado da arte", coordenado pela professora Lia Vera Tomás, do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com financiamento da FAPESP.  Com término previsto para 2014, a pesquisa tem como fontes os anais dos encontros e congressos da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM), o que corresponde a um universo de aproximadamente 2 mil trabalhos apresentados. “Em um primeiro momento, pretendemos fazer um levantamento quantitativo. Isso permitirá saber, por exemplo, quais são as universidades que mais produzem, a temática mais trabalhada e quais as metodologias aplicadas”, disse Tomás. Com base nos dados numéricos, diversas leituras e perguntas poderão ser feitas. “Será possível perceber, por exemplo, como teorias vão sendo abandonadas com o passar dos anos e outras começam a ser adotadas. Se encontrarmos um conjunto de compositores mais pesquisado, a pergunta a ser feita é: por que optaram por esse e não por outro”, apontou. Outro objetivo do projeto é mostrar em que medida a produção acadêmica brasileira dialoga com os trabalhos realizados na América Latina e no mundo. “Avaliar se estamos em sintonia com o que é feito fora do Brasil e até medir se nossa produção acadêmica circula dentro do próprio país”, disse Tomás. Os resultados da pesquisa devem ser reunidos em uma publicação. “Em livro ou em uma publicação na internet, pois uma pesquisa dessa natureza tem de estar acessível para consulta”, afirmou a professora da Unesp. O projeto-piloto já conduzido, que reuniu 1.398 trabalhos, resultou em um capítulo do livroFormação e avaliação de pesquisadores e docentes em música no Brasil, organizado pela professora Sonia Ray, da Universidade Federal de Goiás. Paralelamente, Tomás coordenará nos próximos dois anos, em parceria com o professor Mário Videira da Universidade de São Paulo (USP), a criação de um laboratório de estudos na área de Estética e Filosofia da Música. Esse projeto foi contemplado por um Edital Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além de uma biblioteca específica sobre estética musical e sobre filosofia da música, o projeto inclui a compilação de passagens de obras filosóficas traduzidas em português no qual a temática seja a música. O material será organizado em índices temáticos e cronológicos, que ficarão disponíveis para consulta pela internet. “Numa segunda etapa, queremos incluir e traduzir trechos de obras ainda não editadas em português”, contou Tomás. O laboratório e a biblioteca serão instalados no Instituto de Artes da Unesp.