quarta-feira, 23 de julho de 2014

Pelo de poodle é similar ao de carneiro e pode virar tecido

Os pelos de cães da raça poodle apresentam características idênticas à lã de carneiro, e podem ser utilizados pela indústria têxtil para fabricar tecidos. É o que mostra a dissertação de mestrado do pesquisador Renato Nogueirol Lobo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. Segundo Lobo, para produzir uma tonelada de fio, seriam necessários 600 quilos de pelo de poodle, sendo que essa quantidade poderia ser obtida por meio da tosa de cerca de 800 animais.

“Trata-se de uma alternativa para diminuir a quantidade de pelos descartados em pet shops por meio da reciclagem desses resíduos, que devem ter coleta especial”, justifica, ressaltando que “os fios poderiam ser usados para produzir qualquer tipo de roupa, mas o foco do projeto é reciclagem do pelo de cachorro para fazer roupa para pet.”De acordo com Lobo, a única diferença é que os pelos de poodle são fiáveis em fibra curta, entre 12 a 40 milímetros, e as de carneiro são fiáveis em fibra longa, entre 40 a 80 milímetros.”Essa diferença não altera o processo de fiação nem causa nenhum tipo de prejuízo ao maquinário”, esclarece. No mestrado, o pesquisador produziu um quilo de fio, composto por 50% de pelos de poodle e 50% de acrílico.





“A quantidade de pelo em cada tosa varia de acordo com o tamanho do animal. Para um poodle toy [menores da raça] são cerca de 120 gramas. Já um poodle big[o maior da raça] pode deixar cerca de 1,200 quilos de pelo em cada tosa. Por isso, consideramos uma média de cerca de 700 gramas de pelo por animal”, explica.

Os testes realizados constataram que este fio é semelhante à lã de carneiro em relação à maciez, tingibilidade (capacidade de receber corante), alongamento, absorção de líquido e isolamento térmico. “Um leigo não conseguiria diferenciar um fio que foi confeccionado com pelo de poodle de um fio confeccionado com o de carneiro. Apenas pessoas com conhecimento técnico poderiam perceber a diferença ao analisar o fio e constatar que se trata de uma fibra curta”, diz.

Para realizar a pesquisa, Lobo recolheu dez amostras de pelo de poodle em dez pet shops da cidade de São Paulo, sendo que cada amostra tinha peso variando de ½ a 1 quilo. Após passar por um processo de lavagem, as amostras foram separadas por cor: pelos brancos e creme; e pelos marrons e pretos. “A ideia era saber se havia alguma diferença em relação à finura dos fios claros e escuros”, conta. Os testes indicaram não haver diferença neste aspecto. O próximo passou foi realizar uma série de testes ligados à resistência, alongamento dos pelos, e comprimento de fibra.

Experiência empírica

A ideia de utilizar pelos de poodle como matéria prima para o setor têxtil surgiu por volta de 2008, quando Lobo atuava como professor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), unidade Francisco Matarazzo, em São Paulo — e onde, atualmente, exerce o cargo de coordenador de cursos. Ele explica que a ideia surgiu durante uma conversa com suas alunas: “Uma delas tinha um cão poodle e comentou comigo sobre o aspecto semelhante entre as fibras de poodle e a lã de carneiro e que seria interessante utilizar o pelo do animal na indústria têxtil”, diz. Foi quando o grupo decidiu realizar testes práticos com os pelos de poodle para produzir tecidos.

Mestrado e doutorado

Em 2011, Lobo decidiu ingressar no mestrado acadêmico da Escola de Artes, Ciências e Humanidades com intuito de sair da experiência empírica obtida no Senai a fim de validar, de modo científico, a viabilidade de utilização dos pelos de poodle como matéria-prima para a produção de tecido pela indústria têxtil. Por isso, os estudos foram focados na análise dos pelos e na estrutura do fio produzidos com estes pelos. O mestrado teve orientação da professora Regina Aparecida Sanches e deve ser apresentado nos próximos meses. O projeto já foi divulgado em congressos na Croácia e na Alemanha.



“Foi um processo empírico, baseado no erro e no acerto para chegarmos à composição ideal do fio. Começamos com 25% de pelo de poodle e 75% de acrílico. Fizemos diversos testes, com diversas composições até chegarmos à porcentagem de 50% de pelos de poodle e 50% de acrílico para produzir o fio”, explica. Foram confeccionadas várias amostras de tecido, denominado “caniche” (que significa poodle em francês), tanto cru como tingido, sendo cerca de 1 quilo de malha e 10 metros de tecido plano. Na época, o professor contou a colaboração de duas indústrias têxteis.

Projeto Caniche foi apresentado em algumas feiras de inovação em 2008, como a Inova Senai, promovida pelo Senai, e na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), promovida pela Escola Politécnica (Poli) da USP. Na Febrace, o projeto foi apresentado na área de Ciências Biológicas pelas alunas Cibelle Gaijutis de Azevedo e Ellen Tais Santana, com orientação de Lobo e co-orientação da professora Aparecida Bezerra Nunes, do SENAI Francisco Matarazzo.

Agora que o pesquisador já constatou cientificamente a viabilidade do projeto, o próximo passo será a continuidade por meio de uma pesquisa de doutorado. De acordo com Lobo, a ideia central será a produção de tecidos utilizando pelos de poodle, mas, desta vez, com todo o critério científico que uma pesquisa deste porte exige.
Fotos:  Renato Nogueirol Lobo

segunda-feira, 21 de julho de 2014

FAU disponibiliza acervo digitalizado da Revista Acrópole

do USP Online, com informações da FAU e da Assessoria de Imprensa da USP

O objetivo da equipe — formada pelo professor da FAU e diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, Hugo Segawa, pela professora Marcia Rosetto, pela bibliotecária Dina Elisabete Uliana e pela estagiária Carla Catarine Moura Queiroz — foi o de garantir a preservação da coleção, ampliar o acesso a esse importante acervo, subsidiar a pesquisa na área de Arquitetura e Urbanismo realizada no País e consolidar conhecimento e competências específicas com a elaboração de diretrizes técnicas e operacionais para digitalização e disponibilização de periódicos de interesse histórico e científico.


Além da reprodução integral em meio digital da coleção, o projeto também realizou a conversão dos textos e imagens digitalizadas, permitindo busca direta e acesso online, a criação de um banco de dados para o arquivamento da coleção digital e a organização do website para a busca dos registros e textos completos.


Editada entre os anos de 1938 e 1971, a revista Acrópole é uma publicação especializada em arquitetura que apresenta as realizações desenvolvidas não só por arquitetos paulistas, mas também nacionais e internacionais. Em 34 anos de publicação, a revista registrou projetos de edifícios, urbanização, paisagismo, desenho industrial, comunicação visual, arquitetura de interiores e detalhamento arquitetônico, além de textos teóricos, pesquisas, resenhas e notícias de interesse para os profissionais  da da área.


Vanguarda e tendência“Nos anos 1950 e, sobretudo na década de 1960, não havia arquiteto ou estudante de arquitetura que não consultasse ou colecionasse a revista”, relata Hugo Segawa. “Recordo-me do testemunho de arquitetos gaúchos, jovens profissionais na virada para os anos 1960, que dialogavam com os arquitetos paulistas sem ao menos se conhecerem, folheando as páginas da revista; ou um estudante de arquitetura na segunda metade dos anos 1960 que assinava a Acrópole e a consultava como se fosse um tratado da arquitetura”, relembra.


De acordo com o professor, Acrópole era uma revista comercial, que sobrevivia de publicidade, mas paradoxalmente, pode ter sido ao mesmo tempo uma revista de vanguarda, de tendência, de ideologias e convicções. “Decerto foram os muitos arquitetos-consultores e colaboradores que, ao longo da longeva existência (a maior entre as congêneres de meados do século passado) delinearam as diversas personalidades da Acrópole ao longo de mais de três décadas, compondo um impressionante e surpreendente testemunho de época”, registra Segawa.


Em 2012, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP lançou o Edital de Preservação de Acervos e Patrimônio Cultura, e a Biblioteca da FAU, responsável pelo desenvolvimento e manutenção do Índice de Arquitetura Brasileira (IAB), indexação dos periódicos que realiza desde a década de 1960, planejou a expansão do IAB aproveitando o potencial das tecnologias. Com o projeto “Digitalização e Acesso Online à Revista Acrópole: Conservação e Preservação da Memória da Arquitetura e Urbanismo”, a FAU obteve o recurso da Pró-Reitoria.


Para Hugo Segawa, recuperar e abrir esta coleção é “trazer de corpo inteiro um testemunho de um rico período, à espera de desvendamentos por parte de pesquisadores com olhares das mais distintas disciplinas”. O diretor do MAC destaca ainda que, mais do que a digitalização em si, o objetivo foi desenvolver um modelo metodológico de digitalização para esse tipo de material para orientar a futura digitalização e disponibilização de outros conteúdos de publicações periódicas especializadas de igual relevância tanto na USP, como em outras instituições.


A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP digitalizou a coleção completa da Revista Acrópole, especializada em arquitetura e urbanismo, que circulou entre os anos de 1938 e 1971. Ao todo são 391 fascículos e mais de 23 mil páginas disponíveis no website, lançado no dia 25 de junho. O projeto de digitalização foi uma iniciativa da Biblioteca da FAU, detentora de uma das poucas coleções completas da revista, e contou com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP e das herdeiras do diretor-proprietário da Revista Acrópole e da Editora Max Gruenwald & Cia., Manfredo Gruenwald.