terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Desmatamento reduz tamanho de peixes em região amazônica

Por Antonio Carlos Quinto - acquinto@usp.br

Entre os diversos danos causados pelo desmatamento na Amazônia em virtude da expansão agrícola, uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Biociências (IB) da USP mostra que houve diminuição no tamanho de algumas espécies de peixes. Para realizar o estudo dos Efeitos da conversão de florestas em áreas agrícolas sobre assembleias de peixes das cabeceiras do Rio Xingu, o ecólogo Paulo Ricardo Ilha Jiquiriçá coletou quase 4 mil peixes de 36 espécies diferentes na região de Canarana, no Mato Grosso, cidade conhecida como portal do Xingu. Ele conta que seus estudos tinham como objetivo inicial avaliar os efeitos do desmatamento e da construção de barragens sobre a fauna de peixes (assembleias). “Contudo, no decorrer da pesquisa percebemos que o tamanho corporal dos peixes nos riachos em áreas agrícolas era significativamente menor em comparação com os riachos em áreas de florestas”, conta.


Sob orientação do professor Luis Cesar Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH), e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o cientista deu início às suas pesquisas no ano de 2011. Além dos estudos nos laboratórios do IB, Paulo passou cerca de 18 meses em pesquisas de campo, residindo em Canarana. Lá, em colaboração com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o cientista realizou coletas em seis riachos, sendo três localizados em áreas de florestas e outros três em áreas agrícolas.
Nestas propriedades agrícolas é comum a degradação das matas ciliares e a construção de barragens que represam trechos dos riachos, seja para armazenar água para o gado ou para abastecer pequenas hidrelétricas. Paulo conta que a região já conta com mais de dez mil pequenas barragens. Os cursos d’água avaliados no estudo estão nas cabeceiras de rios afluentes que formam o Rio Xingu (rios Tanguro e Darro), no centro-leste do Mato Grosso. A região é uma das maiores produtoras de soja do País e está localizada no arco do desmatamento amazônico.


Redução de peso

diversas alterações na fauna de peixes foram observadas nos riachos em áreas agrícolas e relacionadas a alterações ambientais. Paulo cita como exemplo uma espécie de rivulídeo, parente dos “killifishes” de aquário, que mede menos de 4 centímetros (cm) e aumentou em abundância nos riachos agrícolas. “Isso ocorreu devido a alterações das características naturais dos riachos. Após o desmatamento, as margens desses córregos são invadidas por gramíneas (Brachiarias) que reduzem a profundidade e criam um ambiente onde os predadores dos rivulídeos não conseguem alcançá-los, o que permite sua proliferação”, conta.


Em contrapartida, espécies que eram comuns nos riachos desapareceram das represas. “Ao menos três espécies de pequenas ‘piabas’ que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontradas em trechos represados”, conta.
Entretanto, a constatação que mais chamou a atenção foi a de que quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas. “É provável que o aquecimento da água seja responsável, ao menos em parte, pela redução de tamanho dessas espécies” acredita.
Medições feitas em campo mostraram que nos riachos de florestas e ainda não alterados em suas características as temperaturas da água eram, em média, entre 24 graus Celsius (°C) e 26°C. “Já nos riachos em áreas agrícolas, nas horas mais quentes do dia, as temperaturas atingiram até 35°C”, descreve. Para testar essa hipótese, Paulo realizou um experimento em laboratório no Departamento de Fisiologia do IB em colaboração com o professor Carlos Arturo Navas Ianini.


Lá, foram criados peixes (da mesma espécie de rivulídeo citada) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas e de florestas. “Os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa, diminuindo de tamanho, enquanto os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos de florestas cresceram”. A pesquisa não investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante. Paulo ressalta que este pode ser o primeiro estudo a fazer a relação direta entre a redução de tamanho dos peixes e o aquecimento provocado pela conversão de florestas em áreas agrícolas. “É possível que isto esteja acontecendo ao longo de todo o arco do desmatamento amazônico e que venha a causar perdas de biodiversidade”.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Religiosidade traz alívio para idosos em hemodiálise

Raquel Duarte, da Assessoria de Comunicação da EERP
Estudo realizado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP que investigou o Bem-Estar Espiritual e a Religiosidade de idosos em tratamento hemodialítico, aponta que essas pessoas encontram na religiosidade características positivas para lidar com situações que a doença gera. A crença também traz qualidade de vida e alívio durante o tratamento hemodialítico, revela o estudo. A pesquisa foi feita pela enfermeira Calíope Pilger, na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e teve como objetivo analisar a relação entre o bem-estar espiritual, a religiosidade, o enfrentamento religioso e espiritual, as variáveis sociodemográficas, econômicas e de saúde, com a qualidade de vida de idosos que se encontram em tratamento. Os idosos que realizam hemodiálise precisam se adaptar a um novo estilo de vida que a doença renal crônica lhes impõem. Nessa nova vida, diz a pesquisadora, eles se deparam com o uso contínuo de medicações, mudança nos hábitos alimentares, o enfrentamento da dependência de outras pessoas, de aparelhos para adaptações à nova realidade da sua vida, e isto pode levá-los a depressão, problemas emocionais e existenciais. Nesse sentido, a religião é utilizada pelos pacientes como enfrentamento para as situações estressantes da vida, segundo Calíope. “Eles usam a fé como uma forma de auxiliar as consequências emocionais negativas que vieram depois da doença, ou então dos momentos difíceis que precisam vivenciar”. Para os idosos, algumas questões são apontadas como importantes dentro da religião, como estar conectado com Deus, o encontro com pessoas nas igrejas, ou templos religiosos. Com isso, relatam, dividem a mesma crença, a realização de ações sociais, como grupos de oração, visita aos doentes e a fé, que auxilia nas dificuldades que a vida impõe. Dos 169 idosos questionados, 125 eram do sexo masculino, e 44 do sexo feminino, com idade entre 60 e 99 anos. Do total, 104 fazem parte da religião católica, 35 da religião evangélica, 15 da religião espírita e uma da budista. Os demais não possuem religião. Para obter os resultados da pesquisa, Calíope utilizou alguns métodos, entre eles, o Índice de Religiosidade de Duke, que mensura três das principais dimensões do envolvimento religioso relacionadas a desfechos em saúde: Religiosidade Organizacional (RO), que é a frequência a encontros religiosos; Religiosidade Não Organizacional (RNO), frequência de atividades religiosas privadas; e a Religiosidade Intrínseca (RI), que refere-se a busca de internalização e vivência plena da religiosidade como principal objetivo do indivíduo. Mulheres se apegam mais a religião O estudo constatou que as mulheres apresentaram maior RO, RNO e RI quando comparadas aos homens. Os idosos com até 80 anos de idade apresentaram maior RO, porém, os com 80 anos ou mais apresentaram maior RNO e RI. Alguns índices indicaram que quanto maior a idade e o número de comorbidades, menores a RO, outro dado é que quanto maior o tempo de tratamento hemodialítico maior a religiosidade. Segundo a pesquisadora, os idosos afirmaram que, a doença renal crônica é vista como uma das piores e mais sofridas doenças, pois após os rins pararem de funcionar, o paciente necessita realizar o processo de hemodiálise. O processo permite a remoção das toxinas e o excesso de água do organismo, a partir da filtragem do sangue em um rim artificial por meio de uma máquina, o que é feito três vezes por semana, com duração de quatro horas cada sessão. “O tratamento hemodialítico promove o equilíbrio do corpo e mantém a vida”, diz Calíope. É nesse momento que os pacientes buscam e religião, diz a pesquisadora, como forma de estratégia, conforto, ou, fonte de esperança para enfrentar a situação em que se encontram. Para ela tal prática é importante, uma vez que ajuda a administrarem o seu dia a dia. “Percebo a importância da religião como suporte social, pois é uma forma de o idoso se socializar; mas muito importante também é a esperança, o conforto que a crença em algo Superior proporciona a saúde física, mental e social. Além de representar uma estratégia de enfrentamento de situações estressantes”, afirma ela. Calíope lembra que diferente de pessoas em outras fases da vida, os idosos possuem suas singularidades e especificidades, seja nas dimensões físicas, sociais, emocionais e espirituais. “Na parte espiritual, as particularidades dos idosos estão relacionadas às questões existenciais, e a busca pela cura e conforto. A tese Estudo correlacional entre bem-estar espiritual, religiosidade, enfrentamento religioso e espiritual e qualidade de vida de idosos em tratamento hemodialítico, foi defendida em maio último, com orientação da professora Luciana Kusumota.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Os sentidos do “jeitinho brasileiro” em nossa cultura

Por Valéria Dias - valdias@usp.br


O “jeitinho brasileiro” é usado para definir tanto as situações positivas como as negativas: a criatividade ao resolver conflitos e até ao falarmos de corrupção. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pesquisa apresenta as diversas nuances dos sentidos que o “jeitinho brasileiro” pode ter na cultura brasileira e mostra outras possibilidades de se expressar diante de tais situações.
“A ideia é mostrar a existência de outras palavras e expressões que trazem uma maior precisão para o entendimento de um determinado fato”, destaca a autora do estudo, a professora de inglês Valquiria da Silva Moisés. As palavras que ela sugere são: solidariedade, sobrevivência, habilidade, criatividade, flexibilidade, improvisação, charme, simpatia, malandragem, prevaricação, hipocrisia, flexibilidade moral. Ela ressalta, no entanto, que há uma linha muito tênue entre essas palavras e, por isso, fica difícil estabelecer uma ordem muito rígida entre elas.
A pesquisadora se baseou na representação gráfica criada por Livia Barbosa, antropóloga que propõe uma sistematização do “jeitinho brasileiro” a partir de um continuum que vai do favor (positivo), passando pelo jeito (que pode ser positivo ou negativo) até a corrupção (negativo). Valquíria ampliou esse continuum e identificou palavras que poderiam se encaixar nessa sistematização.
Para isso, ela fez um levantamento de vários trabalhos nas áreas corporativa, administração, ciências sociais, letras, literatura, comunicação e semiótica. Foi realizado um estudo léxico (conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto) levando em conta a semiótica discursiva francesa do linguísta Algirdas Julius Greimas, que “tem o texto como seu objeto e procura explicar os seus sentidos, isto é, o que o texto diz, e os mecanismos e os procedimentos que constroem esses sentidos”, explica Valquíria. A pesquisadora também selecionou músicas, textos e até fatos históricos sobre o tema.




Texto completo: 
 Do jeitinho brasileiro ao Brazilian little way: uma leitura semiótica

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Novo método facilita classificação de textos

Por Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação ICMC
comunica@icmc.usp.br


Imagine que você é dono de uma empresa e quer medir o grau de satisfação dos seus clientes nas redes sociais. Como filtrar rapidamente, entre milhares de publicações, os comentários positivos e negativos sobre sua marca? Uma técnica desenvolvida por um aluno de doutorado do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, promete facilitar esse trabalho. 

O criador do modelo, Rafael Rossi, escreveu um artigo científico mostrando os resultados obtidos e foi um dos dois premiados na 16th International Conference on Intelligent Text Processing and Computational Linguistics, uma das principais conferências de linguística e mineração de textos do mundo, realizada em abril, no Egito. Foram 62 países participantes e 329 artigos enviados à conferência. Apenas 95 deles foram aceitos e destes, dois premiados.

Para identificar quantas pessoas estão elogiando ou criticando um produto em uma rede social, por exemplo, basta o empresário selecionar alguns comentários bons e outros ruins sobre sua empresa. Com a técnica criada por Rossi, é possível identificar os termos utilizados pelos usuários nesses comentários e classificar, automaticamente, todos os demais depoimentos em positivos ou negativos.



Para tornar essa classificação viável, o doutorando desenvolveu um algoritmo, uma sequência de comandos que é passada para o computador a fim de definir uma tarefa. Nesse caso, a tarefa é classificar textos baseando-se em uma rede de termos. Com esse algoritmo, é possível rotular e organizar uma grande quantidade de textos a partir de poucas unidades previamente classificadas.

“Hoje em dia, com a grande quantidade de textos encontrados em diversos tipos de plataformas, é humanamente impossível organizar, processar e extrair conhecimento de todos eles”, conta o estudante, que é bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Foco no que interessa

A grande quantidade de informações a que um leitor está exposto quando realiza uma simples pesquisa na internet muitas vezes atrapalha e desvia seu foco. O modelo proposto por Rossi contribui para agilizar e facilitar esse processo.

“O diferencial do trabalho é que ele não considera apenas a frequência dos termos nos documentos, que é o mais comum nesse tipo de pesquisa. Leva-se em conta também a relação entre termos para realizar a classificação dos textos”, explica a orientadora do projeto, Solange Rezende, do ICMC. A professora diz ainda que, dessa forma, o que não é de interesse do leitor é automaticamente descartado. No trabalho, Solange e Rossi contam ainda com o apoio do professor Alneu Lopes, também do ICMC.

Outra possível aplicação do método é na organização de uma biblioteca virtual. O algoritmo consegue identificar e organizar os gêneros de uma grande quantidade de livros através de termos retirados de alguns exemplares anteriormente classificados. Assim, a separação dos livros por temas é facilitada.

O doutorando, que recebeu o prêmio pelo artigo Term Network Approach for Transductive Classification, defenderá sua tese nos próximos meses no ICMC.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

E-book reúne protocolos para estudo de habitats bentônicos

Karina Toledo | Agência FAPESP 


Pesquisadores da Rede de Monitoramento de Habitats Bentônicos Costeiros (ReBentos) – dedicada ao estudo de organismos que vivem nos substratos marinhos, como algas e corais – estão lançando um e-book com propostas metodológicas para o monitoramento contínuo e de longo prazo desses ecossistemas no litoral brasileiro.
A obra, intitulada Protocolos para o Monitoramento de Habitats Bentônicos Costeiros, foi elaborada com a participação de mais de 100 especialistas de todo o país. A organização é de Alexander Turra e Márcia Regina Denadai, ambos do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
“O objetivo é padronizar a coleta de dados e garantir que seja obtida uma amostragem mínima durante o monitoramento. Como nem todas as regiões do Brasil contam com boa infraestrutura, os métodos foram definidos buscando-se presteza, simplicidade dos procedimentos e baixo custo”, explicou Turra, coordenador da ReBentos.



Vinculada à Sub-Rede Zonas Costeiras da Rede Clima e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), a ReBentos vem sendo estruturada desde 2011, com apoio da FAPESP.
O projeto é realizado no âmbito do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA) da FAPESP. O objetivo é integrar o conhecimento produzido sobre habitats bentônicos do litoral brasileiro a fim de detectar efeitos das mudanças ambientais locais e globais sobre esses organismos e iniciar uma série histórica de dados sobre a biodiversidade bentônica na costa brasileira.
Segundo Turra, a elaboração de protocolos amostrais de campo foi desde o início uma das prioridades da rede.
“Com a publicação do e-book, todos os grupos de pesquisa do país, vinculados ou não à ReBentos, poderão desenvolver, de forma padronizada e possível de ser comparada, pesquisas nas diferentes regiões da costa. Esperamos que o volume seja uma referência nacional e estímulo para o estudo desses ecossistemas dentro do contexto das mudanças ambientais locais e globais”, disse.
Os habitats marinhos incluídos no volume são bancos de rodolitos, costões rochosos, estuários, os fundos submersos vegetados, manguezais e marismas, praias arenosas e recifes coralinos.
O livro tem 258 páginas, divididas em 20 capítulos, e conta com quase uma centena de ilustrações, além de modelos de planilhas e fichas de informações de campo. O prefácio foi escrito por Paulo Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Já estudamos a possibilidade de expandir esses protocolos para toda a América Latina. No caso das praias, já fizemos uma proposta internacional de monitoramento”, contou Turra.
Em um trabalho anterior publicado em 2013 na revista Global Change Biology, o grupo apresentou uma análise crítica dos estudos já existentes sobre habitats bentônicos na América Latina (leia mais em: agencia.fapesp.br/17139).
“Vimos que há grandes lacunas na produção de conhecimento e uma carência enorme de séries temporais. Os estudos que fazem coletas periódicas por longos períodos são uma raridade. Sem esse tipo de informação, coletada de forma padronizada e comparável, a gente não tem como discutir efeitos de mudanças climáticas”, afirmou Turra.
O lançamento oficial do e-book será realizado na sede da FAPESP no dia 5 de agosto. A versão digital, de livre acesso, poderá ser acessada no site da ReBentos: www.rebentos.org ou pelo link www.producao.usp.br/handle/BDPI/48874.
  • Protocolos para o Monitoramento de Habitats Bentônicos Costeiros 
  • Organizadores: Alexander Turra e Márcia Regina Denadai 
  • Lançamento: 5 de agosto de 2015 
  • Páginas: 258 
  •  

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Demência vascular é mais comum que Alzheimer em idosos

Por Júlio Bernardes - jubern@usp.br
Agência USP
Pesquisas realizadas em cérebros armazenados no Banco de Encéfalos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) revelam maior prevalência de demência vascular e doença de pequenos vasos entre idosos, em comparação com a da doença de Alzheimer. Os estudos realizados no Banco, organizado pelo Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral, encontraram alterações decorrentes de lesões cerebrais causados por problemas da circulação sanguínea, compatíveis com o quadro de demência vascular. A descoberta pode auxiliar na prevenção da doença, associada a fatores de risco cardiovascular, como hipertensão e diabetes.

Anteriormente, acreditava-se que a principal causa de demência entre idosos brasileiros era a doença de Alzheimer, a exemplo do que era verificado em estudos realizados no exterior. “A pesquisa avaliou 1.291 casos, sendo que 113 atenderam os critérios para o grupo ‘demência’, e entre os restantes, foram sorteados 100 para o grupo ‘controle’”, diz a professora Lea Grinberg, da FMUSP, que coordenou a pesquisa. “Os critérios de inclusão no grupo ‘demência’ foram ter mais de 50 anos, apresentar demência moderada ou grave e ter doado o cérebro para o Banco de Encéfalos”.


Os pesquisadores realizaram análises neuropatológicas, que verificaram a existência de lesões vasculares, tipo infarto ou arteriosclerose, ou depósitos de proteínas características de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. “Para isso, usamos técnicas de imuno-histoquímica”, aponta Lea. “Em todos os casos, os dados clínicos foram obtidos com os familiares e um grupo de especialistas analisou os dados para chegar a um diagnóstico clínico”.
Os resultados da pesquisa comprovaram a hipótese de que na população de São Paulo grande parte dos casos de demências poderiam ter sido prevenidos se os fatores de risco cardiovasculares, como pressão arterial, colesterol e obesidade, tivessem sido tratados adequadamente. “Não existe tratamento para a demência, mas é possível evitar ou retardar seu aparecimento quando a causa é um problema da circulação sanguínea”, ressalta a professora. “Há consciência de que o controle de fatores de risco vasculares têm impacto positivo na saúde do coração. A pesquisa mostra que esse efeito pode se estender ao cérebro”.
Biobanco
O Banco de Encéfalos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da FMUSP surgiu a partir de um projeto pontual de pesquisa iniciado em 2003, que visava analisar 500 cérebros. “O objetivo é manter um biobanco para apoiar a realização de pesquisas sobre envelhecimento e doenças neurodegenerativas relacionadas”, conta a professora Renata Leite, que coordena as atividades realizadas no Banco de Encéfalos. “Atualmente, estão armazenados cerca de 3.500 cérebros”. Os cérebros são obtidos junto ao Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC) da USP, responsável por esclarecer a causa de morte em casos de morte natural (causas não externas).

As famílias comparecem ao Serviço para reclamar o corpo, procedimento que envolve a assinatura de documento dando consentimento à autópsia. Nesse momento, a equipe do Banco de Encéfalos aborda a família para solicitar a doação do cérebro. “Uma vez realizada a doação, é feita a coleta”, relata a professora da FMUSP. “Parte dos encéfalos é conservada em formol e a outra é congelada”. O índice de concordância com a doação é de 94%. A prioridade é para os cérebros de pessoas com mais de 50 anos, para servir de suporte aos estudos sobre envelhecimento.
A equipe do Banco conta com três pesquisadores-seniores, os professores da FMUSP, Wilson Jacob Filho (área de Geriatria), Ricardo Nitrini (Neurologia) e Carlos Augusto Gonçalves Pasqualucci (Patologia), diretor do SVOC. Também participam os professores Renata Ferretti, da Escola de Enfermagem (EE) da USP, que coordena a abordagem junto às famílias dos doadores, Renata Leite e Lea Grinberg, da área de Patologia da FMUSP, Claudia Suemoto e José Marcelo Farfel (Geriatria), além de alunos de iniciação científica e pós-graduação.
O Banco de Encéfalos venceu o 7º Prêmio Inovação Medical Services, na categoria Ações, em premiação da área de saúde pública realizada pela empresa Sanofi, no último mês de maio. O estudo sobre demência vascular é descrito em artigo da revista Clinics, assinado por Lea Grinberg, Ricardo Nitrini, Claudia Suemoto, Renata Ferretti, Renata Leite, José Marcelo Farfel, Erika Santos, Mara Patrícia Guilhermino de Andrade, Ana Tereza Di Lorenzo Alho, Maria do Carmo Lima, Katia Oliveira, Edilaine Tampellini, Livia Polichiso, Glaucia Santos, Roberta Diehl Rodriguez, Kenji Ueda, Carlos Augusto Gonçalves Pasqualucci e Wilson Jacob-Filho.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Técnica gera automaticamente conteúdo para jogos

Fonte Agência USP

Desde criança, o aluno de mestrado do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, Lucas Ferreira, era um apaixonado por games. O gosto pelos jogos cresceu junto com ele e, hoje, ele aplica sua paixão pelo mundo virtual na criação de novos desafios para os amantes de jogos eletrônicos. O trabalho do estudante, no qual são geradas automaticamente fases dentro de um game, faz parte de sua dissertação de mestrado, que será defendida em breve no Instituto.



Ferreira desenvolveu um algoritmo, uma sequência de comandos que é passada para o computador a fim de definir uma tarefa, capaz de gerar automaticamente conteúdo e novos níveis dentro de um jogo. O game utilizado para testar seu modelo durante o mestrado foi o Angry Birds. “A gente procurou um contexto em que alguns estudos ainda não haviam sido aplicados. Como o Angry Birds é baseado em física, ele nos traria diversos desafios para gerar conteúdos”, diz o estudante.O estudo desenvolvido pelo mestrando foi criado para analisar a interação dos jogadores com as fases geradas. “Nossa ideia era medir o grau de imersão dos usuários, descobrir se eles perderam a noção do tempo durante o jogo, esquecendo-se do mundo. Esses são alguns dos principais sentimentos que a indústria de jogos quer promover nos jogadores”, explica o mestrando.Para obter essas informações, o aluno criou um questionário para que os usuários, após terem jogado algumas fases, pudessem responder e dar um feedback ao desenvolvedor, opinando sobre o nível de diversão, dificuldade e interação experimentados. Com essas respostas, é possível comparar as fases geradas pelo aluno com as do jogo original.Antes de iniciar seu mestrado no ICMC na área de Geração Procedural de Conteúdo, Ferreira trabalhava em uma empresa de jogos australiana no formato de home office e essa experiência contribuiu muito para seu mestrado: “Eu consegui aliar a experiência de jogador e desenvolvedor, o que me ajudou bastante a criar mais rápido o jogo utilizado nos experimentos. Se eu não tivesse essa experiência, teria sido muito mais difícil”.O trabalho, que começou há cerca de dois anos, está sendo orientado pelo professor Claudio Toledo, do ICMC. O docente já havia atuado anteriormente na área de games, quando foi orientador de uma iniciação científica no Instituto, a qual desenvolveu algoritmos baseados em computação evolutiva para inteligência artificial do jogo.Toledo diz que a execução de todas as etapas, tal como realizado no trabalho de Lucas, é algo difícil de ser encontrado: “Nós geramos conteúdo, avaliamos a jogabilidade e fizemos testes com humanos. Fechamos essas três etapas. Dificilmente você vê pesquisadores, mesmo no exterior, terminando esses três passos na área de geração de conteúdo. Essa foi a principal contribuição do projeto”.


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Manteiga enriquecida pode ajudar pacientes com Alzheimer

Agência USP

A introdução de uma manteiga enriquecida com ácido linoleico conjugada (CLA) — um tipo de ácido graxo encontrado na gordura de lacticínios — na dieta de ratos aumentou a atividade de uma enzima ligada à memória. Os resultados dos testes foram publicados, em abril, no Journal of Neural Transmission, e o estudo sugere que o consumo de alimentos ricos em CLA pode ser útil para pacientes com a Doença de Alzheimer.Entre os autores da pesquisa estão Wagner Gattaz, Leda Leme Talib, Emanuel Dias Neto e Fábio Mury, do Laboratório de Neurociências – LIM 27, do Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Também assinam o artigo Marcos Gama e Fernando Lopes, da Embrapa, e Nadia Rezende Raposo, da Universidade Federal de Juiz de Fora.De acordo com Leda Leme Talib, chefe do Laboratório de Neurociências, estudos da literatura científica demonstram que pacientes com Alzheimer apresentam baixa atividade de uma enzima chamada fosfolipase A2 (PLA2) no cérebro, ela está ligada às estruturas cerebrais relacionadas à memória.“A fosfolipase A2 (PLA2) é uma enzima que atua sobre fosfolípides, gorduras constituintes das membranas celulares, e ácidos graxos, que funcionam como mediadores na formação da memória. Na pesquisa, observamos que a ingestão de alimentos ricos em ácido linoleico modulou a atividade dessa enzima, essa maior atividade da fosfolipase implicou em uma melhora da memória dos animais em estágio inicial do Alzheimer”.



Leda explica que em pacientes sem Alzheimer, as membranas celulares são fluídas e renovadas normalmente, mas em pacientes com a doença, as membranas são rígidas e dificultam a liberação de ácidos graxos, como o ácido linoleico, que influencia nos mecanismos de formação da memória. Por isso o aumento da atividade da fosfolipase A2, que atua nas camadas das membranas celulares, pode ter contribuído para melhorar a memória dos animais.TestesDurante quatro semanas, ratos receberam dietas com quantidade normal de ácido linoleico (grupo controle), quantidade elevada (manteiga enriquecida) e abaixo do normal. Eles foram ensinados a desempenhar determinada tarefa para analisar a situação da memória.A análise do tecido cerebral dos animais mostrou que os alimentados com maior quantidade de ácido linoleico apresentavam maior atividade das fosfolipases, correlacionada à melhoria da memória dos animaisApesar de os testes sugerirem que os produtos lácteos enriquecidos com ácido linoleico podem ser úteis no tratamento da doença, a pesquisadora alerta que precisam ser feitos mais estudos. “Precisamos analisar o que essa alimentação rica em gordura pode acarretar na saúde dos animais, são necessárias mais intervenções até chegarmos às análises com humanos”, avisa Leda.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Estudo revela fatores que aumentam risco de morte por H1N1

Fonte Agência USP
Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, análises dos pacientes que tiveram influenza A(H1N1)pdm09 em São Paulo durante a epidemia de gripe que aconteceu em 2009 revelam os fatores que levam a um maior risco de morte provocada pela doença. O trabalho da médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro aponta que os maiores riscos estão em pessoas com idade entre 18 e 59 anos, com obesidade e imunossupressão, entre outros fatores. Estudo específico com gestantes constatou maior número de perdas fetais e partos prematuros nas mulheres que morreram. A pesquisa ressalta a importância da identificação dos pacientes com maior risco e do tratamento precoce para reduzir a mortalidade e aumentar as chances de cura.
A identificação de um novo vírus da gripe (subtipo viral, influenza A(H1N1)pdm09), em abril de 2009 e anúncio do início de uma pandemia de influenza pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em junho do mesmo ano, levaram ao início da pesquisa. Durante o trabalho foram realizados dois estudos caso-controles, em pacientes e em gestantes hospitalizados com influenza A(H1N1) pdm09 confirmada laboratorialmente e Doença Respiratória Aguda Grave (DRAG). “O objetivo era identificar os fatores de risco de morte nos dois grupos”, afirma Ana. “Nas gestantes, foram analisados também os desfechos da gestação e e neonatais, após o nascimento das crianças”.
A médica explica que os “casos” se referem aos pacientes que evoluíram para morte e os “controles” são aqueles que alcançaram a cura. “Ambos os grupos foram selecionados por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-Influenza-web), organizado pelo Ministério da Saúde”, diz, “sendo sorteados dois controles no estudo dos pacientes, e quatro no das gestantes, pareados por semana epidemiológica da data de internação”. Durante a pesquisa aconteceram avaliações dos prontuários hospitalares e entrevistas domiciliares, a partir de formulários padronizados, de um total de 812 pacientes. “O primeiro estudo foi realizado nas regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas, de 28 de junho a 29 de agosto de 2009. Foram avaliados 579 pacientes, sendo 193 que morreram e 386 que se recuperaram”, descreve a médica. “Nas gestantes, o estudo incluiu o Estado de São Paulo, de 9 de junho a 1 de dezembro de 2009, com 233 casos analisados, entre os quais houve 48 mortes”.

Risco de morte 


No primeiro estudo, foram fatores de risco para morte ter idade entre 18 e 59 anos, doenças crônicas, imunodepressão, obesidade e ter tido atendimento anterior à internação. “O tratamento antiviral, quando administrado nas primeiras 72 horas do início dos sintomas, foi fator de proteção”, destaca Ana.Em gestantes, foram investigados 48 casos e 185 controles. “Foram fatores de risco para morte ter tido atendimento prévio à internação e estar no terceiro trimestre de gestação. O tratamento antiviral foi fator de proteção, principalmente quando administrado até 72 horas do início dos sintomas”, afirma a médica. Em relação aos desfechos gestacionais, houve maior proporção de perdas fetais e partos prematuros entre as mulheres que morreram. “Elas tiveram recém-nascidos vivos com peso mais baixo e índices inferiores no Apgar do primeiro minuto (medida dos sinais vitais), quando comparado às mulheres que se recuperaram e tiveram parto durante a internação”.De acordo com Ana, a identificação dos pacientes de maior risco e o tratamento precoce são fatores importantes para a redução das internações e da mortalidade por influenza. “A capacitação dos profissionais de saúde e o acesso aos serviços de saúde são fatores importantes para o adequado manejo clínico dos pacientes com síndrome gripal e condições de risco, bem como pacientes com sinais de agravamento, em especial a utilização precoce do antiviral”, aponta. “Manter boa cobertura durante a Campanha de Vacinação contra Influenza nos grupos prioritários também é fundamental”.Os grupos prioritários para a vacinação são crianças de seis meses a cinco anos de idade, gestantes, puérperas, trabalhadores da área de saúde, povos indígenas, pessoas com 60 anos ou mais, população privada de liberdade e funcionários do sistema prisional e pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais, como doenças respiratórias, cardíacas crônicas, renais, hepáticas e neurológicas crônicas, diabetes, imunossupressão, trissomias (síndrome de Down), obesidade (grau III) e transplantados. Os resultados da pesquisa são descritos na tese de doutorado “Fatores de Risco para Óbito por Influenza A(H1N1)pdm09, Estado de São Paulo, 2009″, defendida na FSP no último mês de março. O trabalho teve a orientação da professora. Dirce Maria Trevisan Zanetta.


Acesso ao texto completo

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Características estruturais e funcionais do sistema nervoso central vasos linfáticos

Uma das características do sistema nervoso central é a falta de um sistema de drenagem linfática clássica. Embora seja agora aceite que o sistema nervoso central sofre constante vigilância imunológica que ocorre dentro do meníngea compartimento 1-3, os mecanismos que regem a entrada e saída células do sistema imunológico do sistema nervoso central continuam pouco no compartimento 4-6. Na procura de redes de células T para dentro e para fora do meninges, descobrimos vasos linfáticos funcionais que revestem  os seios durais. Estas estruturas expressão todas as características moleculares de células endoteliais linfáticas, são capazes de transportar tanto fluido e células do sistema imunológico do líquido cefalorraquidiano, e está conectado para os nódulos linfáticos cervicais profundos. A localização única destes vasos pode ter impedido a sua descoberta até agora, contribuindo, assim, para o conceito  da ausência da vasculatura linfática no sistema nervoso central. A descoberta do  sistema linfático no centro sistema nervoso pode chamar para uma reavaliação da pressupostos básicos em neuro imunologia e lança nova luz sobre o etiologia de doenças neuro-inflamatórios e neurodegenerativas, associada com a disfunção do sistema imunológico.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Novos biomarcadores vão ajudar a detectar câncer de bexiga

Por Valéria Dias - valdias@usp.br
 Publicado em 2/junho/2015 |  Editoria : Saúde | Imprimir Imprimir | 

A descoberta de proteínas e metabólitos (pequenas moléculas que são produto do metabolismo humano) na urina de pessoas com e sem câncer de bexiga poderá ajudar, no futuro, a detecção precoce da doença. Os estudos estão sendo conduzidos pela pesquisadora Juliana Vieira Alberice, no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP. “Outros estudos ainda necessitam ser realizados, mas os resultados obtidos até agora indicam que poderemos utilizar essas proteínas e metabólitos como biomarcadores para o câncer de bexiga”, aponta. Pesquisa contribui para criar, no futuro, kits para a detecção da doença Segundo os pesquisadores envolvidos no projeto, “biomarcadores são moléculas que podem ser medidas experimentalmente e indicam a ocorrência de uma determinada função normal ou patológica de um organismo. Assim, podem ser utilizados como ferramentas não apenas para o diagnóstico como também para o prognóstico de doenças, que é uma previsão do resultado do tratamento”. O estudo foi realizado durante a pesquisa de doutorado de Juliana no IQSC, sob a orientação do professor Emanuel Carrilho, coordenador do Bioanalytical, Microfabrication, and Separations Group (BioMicS), um dos grupos participantes do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCTBio), no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). 

A pesquisa envolveu duas etapas: a detecção de biomarcadores para o diagnóstico de câncer de bexiga, e biomarcadores para a detecção da progressão da doença (quando o câncer evolui de baixo para alto risco) e para verificar as chances de reincidência após uma intervenção médica. Foram utilizadas duas abordagens metodológicas: uma proteômica, que busca por proteínas diferencialmente expressas nesses grupos, realizada nos laboratórios do IQSC; e outra metabolômica, que busca identificar diferentes metabólitos envolvidos na doença. A segunda abordagem foi desenvolvida no Centro de Excelência em Metabolômica e Bioanálise (CEMBIO) da Universidade de San Pablo, em Madri (Espanha), com o financiamento obtido por meio de um convênio entre força aérea brasileira e Air bus military da Espanha Biomarcadores Na análise proteômica, os pesquisadores coletaram a urina de 30 pessoas sendo 15 com câncer de bexiga e 15 sem a doença, no Hospital A.C. Carmargo, em São Paulo. “Fizemos algo chamado de pool, a mistura de volumes exatamente iguais para o grupos de pacientes e controle, separadamente”, explica. Por meio das técnicas chamadas de eletroforese bidimensional e OFFGEL foi possível separar as proteínas presentes nos dois grupos de amostras. Utilizando-se e do equipamento LC-MS (cromatografia liquida acoplada a espectrometria de massas), a pesquisadora conseguiu detectar 3 tipos de proteínas: as que estavam no grupo de pacientes, as que estavam no grupo controle e as encontradas nos dois grupos mas em quantidades diferentes. “Essas proteínas têm potencial para se tornarem biomarcadores para o câncer de bexiga. Mas para isso ocorrer, será preciso testá-los em uma grande população.” Já na análise metabolômica, realizada no CEMBIO, em Madri, foram estudadas apenas pessoas com câncer de bexiga, de alta e de baixa possibilidade de progressão da doença. As amostras de urina dos dois grupos foram coletadas de 40 pacientes do Centro de Estudos Oncológicos de Madri. Juliana utilizou as técnicas de cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa e eletroforese capilar acoplada à espectrometria de massas, além de estatística multivariada e de outros softwares, para separar e identificar os metabólitos presentes na urina dos dois grupos. De acordo com Juliana, os resultados metabolômicos e proteômicos estão relacionados, aumentando, assim, as chances de eles se tornarem biomarcadores. “A proposta seria criar um kit que detecta, a partir da urina do paciente, se há câncer ou não, e qual o possível prognóstico para cada tipo. No Brasil ainda não temos nada parecido. Entretanto, no exterior, já existem biomarcadores semelhantes, mas eles não são utilizados para se obter o diagnóstico”, informa. Outros estudos Para se tornarem biomarcadores, novas pesquisas deverão ser realizadas para aprofundar esses resultados. Além de aumentar o número de amostras analisadas, o ideal seria que as análises proteômica e metabolômica fossem realizadas com as mesmas amostras de urina. Atualmente, Juliana dá continuidade à pesquisa em seu pós-doutorado no IQSC. Na última semana de maio, a pesquisadora embarcou para os Estados Unidos, a fim de participar de um congresso para expor esses resultados. De acordo com os pesquisadores envolvidos no projeto, “o câncer de bexiga acomete homens e mulheres, sendo que, somente no Brasil, 8.600 novos casos ao ano são diagnosticados. Nos estágios iniciais o tumor é “silencioso” e alguns sintomas se manifestam apenas em estágios mais avançados. Além disso, os sintomas são comuns a outras doenças do trato gênito urinário, o que dificulta o diagnóstico preciso. A conduta padrão no diagnóstico e acompanhamento da doença é a cistoscopia transuretral, procedimento extremamente invasivo e doloroso, de elevado custo, além de não garantir todos os resultados. Por isso, a descoberta de biomarcadores que possam ajudar a avaliar a presença e o grau do tumor é de extrema importância. A descoberta dessas moléculas em urina também agrega grande valor à pesquisa, uma vez que o procedimento para coleta não é invasivo e o paciente não é exposto a procedimentos desconfortáveis e não tem sua rotina de tratamento alterada.”

terça-feira, 28 de abril de 2015

Alteração comportamental de animais sinaliza, dias antes, a ocorrência de terremotos

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O dado de que alterações no comportamento dos animais sinalizam, com horas ou dias de antecedência, eventos como os terremotos já era conhecido. Especialmente noticiada foi a disparada dos elefantes asiáticos para terras altas por ocasião do terremoto seguido de tsunami de 26 de dezembro de 2004. Muitas vidas humanas foram salvas graças a isso. Mas tais eventos ainda não haviam sido documentados de maneira rigorosa e conclusiva. Nem fora estabelecida uma correlação de causa e efeito entre essa modificação do comportamento animal e fenômenos físicos mensuráveis. Isso ocorreu agora em pesquisa realizada por Rachel Grant, da Anglia Ruskin University (Reino Unido), Friedemann Freund, da agência espacial Nasa (Estados Unidos), e Jean-Pierre Raulin, do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (Brasil). Artigo relatando o estudo, “Changes in Animal Activity Prior to a Major (M=7) Earthquake in the Peruvian Andes”, foi publicado na revista Physics and Chemistry of the Earth. O físico Jean-Pierre Raulin, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, participou do estudo no contexto do projeto de pesquisa “Monitoramento da atividade solar e da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS) utilizando uma rede de receptores de ondas de muita baixa frequência (VLF) - SAVNET - South América VLF network”, apoiado pela FAPESP. “Nosso estudo correlacionou alterações no comportamento de aves e pequenos mamíferos do Parque Nacional Yanachaga, no Peru, com distúrbios na ionosfera terrestre, ambos os fenômenos verificados vários dias antes do terremoto Contamana, de 7,0 graus de magnitude na escala Richter, que ocorreu nos Andes peruanos em 2011”, disse Raulin à Agência FAPESP. 




Os animais foram monitorados por um conjunto de câmeras. “Para não interferir em seu comportamento, essas câmeras eram acionadas de forma automática no momento em que o animal passava na sua frente, registrando a passagem por meio de flash de luz infravermelha”, detalhou o pesquisador. Em um dia comum, cada animal era avistado de cinco a 15 vezes. Porém, no intervalo de 23 dias que antecedeu o terremoto, o número de avistamentos por animal caiu para cinco ou menos. E, em cinco dos sete dias imediatamente anteriores ao evento sísmico, nenhum movimento de animal foi registrado. Nessa mesma época, por meio do monitoramento das propriedades de propagação de ondas de rádio de muito baixa frequência (VLF), os pesquisadores detectaram, duas semanas antes do terremoto, perturbações na ionosfera sobre a área ao redor do epicentro. Um distúrbio especialmente grande da ionosfera foi registrado oito dias antes do terremoto, coincidindo com o segundo decréscimo no avistamento dos animais. Os pesquisadores propuseram uma explicação capaz de correlacionar os dois fenômenos. Segundo eles, a formação maciça de íons positivos, devido à fricção subterrânea das rochas durante o período anterior ao terremoto, teria provocado tanto as perturbações medidas na ionosfera quanto a alteração comportamental dos animais. A fricção é resultado da subducção ou deslizamento da placa tectônica de Nazca sob a placa tectônica continental. É sabido que a maior concentração de íons positivos na atmosfera provoca, seja em animais, seja em humanos, um aumento dos níveis de serotonina na corrente sanguínea. Isso leva à chamada “síndrome da serotonina”, caracterizada por maior agitação, hiperatividade e confusão. O fenômeno é semelhante à inquietação, facilmente perceptível em humanos, que ocorre antes das tempestades, quando a concentração de elétrons nas bases das nuvens também provoca um acúmulo de íons positivos na camada da atmosfera próxima ao solo, gerando um intenso campo elétrico no espaço intermediário. “No caso dos terremotos, cargas positivas formadas no subsolo devido ao estresse das rochas migram rapidamente para a superfície, resultando na ionização maciça de moléculas do ar. Em algumas horas, os íons positivos assim formados alcançam a base da ionosfera, localizada cerca de 70 quilômetros acima do solo. Esse aporte maciço de íons teria provocado as flutuações da densidade eletrônica na baixa ionosfera que detectamos. Por outro lado, durante o trânsito subterrâneo das cargas positivas, devido a uma espécie de ‘efeito de ponta’, a ionização tende a se acumular perto das elevações topográficas locais – exatamente onde estavam localizadas as câmeras. Nossa hipótese foi que, para se livrar dos sintomas indesejáveis da síndrome da serotonina, os animais fugiram para áreas mais baixas, onde a ionização não é tão expressiva”, explicou Raulin. “Acreditamos que ambas as anomalias surgiram a partir de uma única causa: a atividade sísmica causando estresse na crosta terrestre e levando, entre outras coisas, à enorme ionização na interface solo-ar. Esperamos que nosso trabalho possa estimular ainda mais a investigação na área, que tem o potencial de auxiliar as previsões de curto prazo de riscos sísmicos”, declarou Rachel Grant, principal autora do artigo. Independentemente da observação do comportamento animal, os resultados obtidos mostram que a previsão de terremotos poderia ser feita também mediante a detecção da ionização do ar, com o monitoramento do campo elétrico atmosférico. “Já temos detectores instalados no Brasil, no Peru e na Argentina. E pretendemos, em breve, instalar sensores de campo elétrico atmosférico nos lugares propícios a atividades sísmicas importantes. Isso daria uma previsibilidade da ordem de duas semanas ou até mais. Por ocasião do terremoto do Haiti, em janeiro de 2010, a rede SAVNET já tinha detectado flutuações na ionosfera com 12 dias de antecedência, com resultados publicados na revista NHESS – Natural Hazards and Earth System Sciences”, afirmou Raulin.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Influência Da Cultura No Comportamento Alimentar De Gestantes: Contribuições Para Enfermagem

Resumo da autora


As escolhas alimentares humanas estão associadas a diversas influências de ordem social, cultural e histórica, além do campo biológico. As influências culturais indicam os alimentos aceitos e os alimentos proibidos e traduzem os significados e os modos de vida de um grupo em particular. Para as gestantes, que vivenciam um período de constantes transformações e readaptações, o cenário social em que vivem e a história cultural sinalizam quais saberes e práticas alimentares estão de acordo para a manutenção da saúde. Este estudo teve como objetivo apreender as influências culturais no comportamento alimentar de gestantes. Para tanto, optou-se pela pesquisa de campo, com abordagem qualitativa e vertente etnográfica. O método da etnoenfermagem, por meio da observação participante e da entrevista, possibilitou a identificação e a compreensão de significados, crenças e hábitos que determinam o comportamento alimentar das gestantes. Participaram do estudo três gestantes com idade gestacional inferior a 30 semanas, moradoras da região norte de Santa Maria, Rio Grande do Sul, e assistidas pela enfermeira durante o pré-natal. O cenário do estudo contemplou o consultório de enfermagem e o domicílio das gestantes. A coleta de dados ocorreu de março a maio de 2010, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria. Como resultados foram constituídas três categorias: “dos saberes aos sabores: as práticas alimentares das gestantes”; “entre desejos e possibilidades: as adaptações alimentares durante o período gestacional”; e “o aumento de peso gestacional: um olhar sobre a doença, um olhar sobre a vaidade”. 

Evidenciou-se que o comportamento alimentar das gestantes está imbricado a múltiplos significados culturais. A memória, as tradições, as relações sociais e familiares, a mídia e as noções de saúde, doença e estética representam os núcleos centrais para as conformações alimentares. O enfermeiro que realiza o cuidado pré-natal, ao atentar para a cultura das mulheres e de suas famílias, vislumbra a motivação das escolhas alimentares e pode, dessa forma, reorientar ou preservar o consumo de determinados alimentos, além de identificar e prevenir possíveis riscos nutricionais. Ao valorizar as práticas alimentares e os significados atribuídos aos alimentos, o enfermeiro aproxima, estrategicamente, os saberes profissionais aos saberes populares, incidindo num cuidado cultural à gestante. Texto completo: Influência Da Cultura No Comportamento Alimentar De Gestantes: Contribuições Para Enfermagem

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estudo traz dados inéditos para restauração de florestas

Resumo da autora:

A restauração ecológica, ao buscar a manutenção de processos ecológicos e serviços ecossistêmicos, vem exercendo um importante papel na recuperação de ecossistemas degradados e conservação da biodiversidade. Restabelecer as interações entre organismos pode, contudo, ser uma tarefa mais árdua em ambientes de alta diversidade com complexas relações ecológicas como as florestas tropicais. Neste trabalho, investigamos a resposta dos insetos visitantes florais à restauração por plantio de mudas de espécies de Floresta Estacional Semidecidual, uma vez que o restabelecimento do processo de polinização é imprescindível para a perpetuação da floresta implantada. Para isso, foram examinados diferentes aspectos das comunidades de plantas e visitantes florais em seis áreas em processo de restauração. Primeiramente, buscouse analisar a estrutura da comunidade de visitantes florais e seus padrões de visita às flores, avaliandose também se a proximidade de fragmentos de vegetação nativa é importante na determinação da estrutura destas comunidades. Além disso, investigamos as espécies vegetais que florescem nos estágios iniciais de restauração para verificarmos se a comunidade de plantas se restabelecendo em cada local é importante na determinação da comunidade de visitantes. Por fim, avaliamos o restabelecimento do processo de polinização ao averiguar o transporte de pólen ocorrendo nas áreas restauradas e ao examinar a robustez das redes formadas frente à extinção simulada de espécies. Todas as áreas analisadas apresentaram redes de interação plantavisitante floral com estrutura e atributos comuns a outras redes mutualísticas de polinização, indicando que o processo deve estar se restabelecendo. A diferença na composição de espécies de visitantes não resultou em diferenças nos atributos das redes e a distância das áreas restauradas a fragmentos de vegetação nativa não influenciou a composição da comunidade de visitantes. Por outro lado, a vegetação regenerante composta por espécies ruderais aumentou a diversidade de visitantes e também a complexidade das redes de interação planta visitante floral, afetando a composição e provavelmente o funcionamento das comunidades. Embora tanto as redes de visitação quanto as de transporte de pólen revelem comunidades funcionalmente complexas com um número relativamente diverso de interações entre plantas e potenciais polinizadores, os dados de visitação demonstraram que nem todas as áreas possuem o mesmo padrão de resposta à extinção simulada de espécies. A presença massiva de gramíneas é provavelmente um fator determinante da robustez destas redes já que ela dificulta a regeneração natural das espécies ruderais que contribuem para o maior aporte de recursos florais para os insetos visitantes. Este trabalho demonstra a importância de se avaliar a recuperação dos aspectos funcionais de ecossistemas restaurados e tem implicações práticas para o manejo de áreas restauradas onde houver preocupação particular com a recuperação das interações plantapolinizador. Enfatizamos a importância do monitoramento constante de áreas restauradas para melhor entendermos as trajetórias de recuperação das florestas tropicais e recomendamos estudos multidisciplinares que integrem diversas áreas de conhecimento para aperfeiçoarmos as ações de restauração

acesso a Tese de Fragoso, Fabiana Palmeira

segunda-feira, 16 de março de 2015

Mudança de uso da terra e impacto na matéria orgânica do solo em dois locais no Leste da Amazônia

Diana Signon Deon
Mudanças de uso da terra afetam a dinâmica da matéria orgânica e o acúmulo de C e N no solo e estão associadas a emissões de gases de efeito estufa (GEEs). A região Amazônica é relevante para as emissões brasileiras de GEEs oriundas das mudanças de uso da terra. O objetivo deste trabalho foi determinar alterações quantitativas e qualitativas nos estoques de C e N no solo em função de mudanças de uso da terra em Santarém-PA e São Luís-MA. Foram coletadas amostras de solo sob diferentes usos da terra: vegetação nativa, vegetação secundária, pastagem degradada, pastagem melhorada e agricultura anual. Adicionalmente, foram avaliadas áreas de mata queimada em Santarém-PA e de fruticultura e horticultura em São Luís-MA. Houve diferenças entre os solos de vegetação nativa nos dois locais, apesar dos estoques de C e N terem sido similares. Em Santarém, fósforo e granulometria relacionaram-se aos estoques de C e N. 

Em São Luís a acidez potencial ajudou a estimar o estoque de C; granulometria e capacidade total de troca de cátions estimaram o estoque de N. Os estoques de C e N na vegetação secundária foram similares aos da vegetação nativa nos dois locais e relacionaram-se com a acidez potencial do solo. Em Santarém o estoque de C (0-30 cm) na pastagem melhorada foi maior que na vegetação nativa. Em São Luís, o estoque de C foi semelhante ao da vegetação nativa. Os estoques de N tiveram comportamento similar aos estoques de C. Na pastagem melhorada de Santarém a soma de bases foi importante para estimar os estoques de C e N; em São Luís houve efeito negativo da densidade do solo. Estoques de C e N nas pastagens degradadas foram semelhantes à vegetação nativa, mas foram influenciados por parâmetros diferentes. Áreas de agricultura anual apresentaram estoques de C inferiores aos das pastagens melhoradas e da vegetação nativa e a sua manutenção relaciona-se com a redução da acidez potencial e com o aumento das bases trocáveis. A qualidade da matéria orgânica do solo foi avaliada nas amostras de São Luís. A mudança de uso da terra reduziu o C na fração orgânica (75-2000 ?m), mas os usos mais conservacionistas aumentaram o C nas formas estáveis (< 53 ?m). Vegetação secundária e pastagem recuperada apresentaram índice de manejo de C semelhantes aos da vegetação nativa. A conversão de vegetação nativa para agricultura ou pastagem reduziu o C na biomassa microbiana, mas os sistemas com grande aporte de material orgânico e com reduzida mobilização do solo apresentaram teor de C microbiano similar à vegetação nativa. Pastagem e agricultura também apresentaram os menores quocientes microbianos, indicando condição de estresse da biomassa microbiana.
 Texto completo: 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Primeiro centro de pesquisa no Brasil no modelo "open science" é lançado

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – Identificar no genoma humano proteínas-chave para o desenvolvimento de novos medicamentos e descobrir como tornar plantas importantes para a agricultura mais resistentes à seca são os objetivos do recém-criado Centro de Biologia Química de Proteínas Quinases da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cuja apresentação oficial ocorreu nesta terça-feira (10/03).
Apoiado pela FAPESP por meio do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), o centro funcionará em um modelo de open science (acesso aberto ao conhecimento), integrando a rede do Structural Genomics Consortium (SGC), uma parceria público-privada que reúne cientistas, indústrias farmacêuticas e entidades sem fins lucrativos de apoio à pesquisa.
“O SGC mantém outros dois centros sediados na Universidade de Oxford (Inglaterra) e na Universidade de Toronto (Canadá), ambos dedicados a estudar proteínas de importância biomédica. Aqui na Unicamp pretendemos, além de avançar nessa área, aproveitar o conhecimento e a tecnologia desenvolvida em parceria com a indústria farmacêutica para aprender também sobre biologia de plantas”, disse Paulo Arruda, professor de genética no Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador da nova unidade brasileira.
Diante de um cenário de mudanças climáticas, no qual os eventos extremos devem se tornar mais frequentes, a meta é descobrir como aumentar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo de água.

Para isso, as pesquisas terão como alvo um grupo de enzimas conhecidas como quinases que, por serem responsáveis por regular importantes processos tanto no organismo humano como em plantas – entre eles divisão, proliferação e diferenciação celular –, são consideradas potenciais alvos para o desenvolvimento de drogas.
O acordo assinado na terça-feira em São Paulo prevê um aporte de US$ 4,3 milhões da FAPESP, além de US$ 1,9 milhão da Unicamp e outros US$ 1,3 milhão do SGC. Os resultados das pesquisas estarão disponíveis à comunidade científica mundial, sem o obstáculo imposto por patentes ou qualquer outro acordo de propriedade intelectual, como já ocorre nos outros dois centros de pesquisa do SGC.
De acordo com Arruda, as atividades do novo centro devem ter início em julho. A estrutura prevista para os primeiros cinco anos deve englobar entre 25 e 30 pesquisadores. “Mas sabemos que iniciativas como essas atraem bons estudantes e pós doutorandos, então pode até se tornar maior. Qualquer interessado em estudar o assunto, de qualquer instituição, poderá se juntar ao grupo”, disse.
Ao abrir a cerimônia de assinatura do acordo, o presidente da FAPESP, Celso Lafer, classificou a iniciativa como um “grande mutirão em prol do avanço do conhecimento” e destacou que ela poderá ajudar a encontrar novos fármacos para doenças como câncer e Alzheimer.
O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, disse que, desde o início das discussões para a criação do centro, a Fundação avaliou a proposta como “muito interessante”, pois engloba atividades consideradas especialmente importantes para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Estado de São Paulo.
“Oferece oportunidade de fomentar pesquisas que vão levar a resultados de alto impacto intelectual, social e econômico. Além disso, cria oportunidades de colaboração internacional para pesquisadores de São Paulo. Por último, cria a oportunidade para os pesquisadores paulistas trabalharem em parceria com empresas”, afirmou Brito Cruz.
Rede mundial
O SGC mantém atualmente colaboração com mais de 300 grupos de pesquisas em 40 países. Também conta com a parceria de dez dos maiores laboratórios farmacêuticos do mundo, entre eles GlaxoSmithKline (GSK), Novartis, Pfizer e Bayer, que contribuem não apenas com financiamento como também com expertise no desenvolvimento de ferramentas essenciais para entender o funcionamento das quinases, disse Aled Edwards, fundador e presidente do consórcio.

“A melhor forma de descobrir como uma quinase funciona é inventar uma pequena molécula, uma sonda química, capaz de se ligar especificamente à enzima-alvo e inibir seu funcionamento. Então você injeta em um animal e vê o que acontece. Mas cada uma dessas sondas químicas leva entre 18 meses a 2 anos para ser desenvolvida e o custo é muito alto”, disse Edwards.
Além de disponibilizar algumas sondas químicas já existentes em sua biblioteca de compostos, as farmacêuticas parceiras da iniciativa, como a GSK, ajudarão a desenvolver no centro da Unicamp nos próximos anos pelo menos 15 novas moléculas voltadas a investigar o funcionamento de quinases ainda pouco conhecidas pela ciência.
Segundo Edwards, o projeto genoma humano revelou a existência de mais de 500 tipos de quinases, mas até hoje apenas cerca de 40 foram bem estudadas.
“O modelo de financiamento de pesquisa em todo o mundo faz com que cientistas de todos os lugares trabalhem nos mesmo projetos. Nossa proposta é trabalhar com as quinases com as quais ninguém está trabalhando, pois acreditamos que lá encontraremos as novidades de grande impacto para o desenvolvimento de novas drogas. E congratulamos a FAPESP e a Unicamp por dividirem conosco o risco de trabalhar com o desconhecido”, destacou.
Presente à cerimônia de assinatura do acordo, o representante da GSK, Bill Zuercher, explicou que a parceria com o SGC e o modelo de inovação aberta representam para as empresas farmacêuticas uma esperança de reduzir a alta taxa de fracasso no processo de desenvolvimento de novas drogas. Atualmente, cerca de 96% dos candidatos a medicamentos não obtêm sucesso na etapa de ensaios clínicos e não chegam ao mercado.
“Uma das causas desse alto índice de fracasso é a escolha inapropriada do alvo inicial da droga. E esse não é um problema fácil de solucionar. Precisamos ampliar o conhecimento sobre a biologia fundamental e esse é o tipo de pesquisa que mesmo uma empresa grande como a GSK não é capaz de fazer sozinha. Levaria séculos para entender o funcionamento de todas as quinases”, disse Zuercher, encarregado de estruturar a parte de química medicinal no novo centro da Unicamp.
O vice-reitor da Universidade Estadual de Campinas, Alvaro Crósta, destacou que o SGC-Unicamp será o primeiro polo de pesquisa brasileiro criado dentro do paradigma da inovação aberta.
“Esse modelo se adequa muito bem às etapas iniciais de desenvolvimento de novos fármacos pelo imenso volume de moléculas a serem analisadas. Além do impacto muito significativo para a saúde pública, a iniciativa promoverá forte interação acadêmica entre docentes, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação com seus pares nas instituições parceiras. Certamente surgirão oportunidades de ampla colaboração, aumentando a presença e o impacto internacional das nossas atividades”, disse.
Também participou da cerimônia Wen Hwa Lee, ex-aluno da Unicamp que hoje atua como gerente de alianças estratégicas do SGC e foi um dos intermediadores da parceria.
Outra presença de destaque foi o pesquisador da Universidade de Oxford Opher Gileadi, que ficará no Brasil em tempo integral durante o primeiro ano de funcionamento do centro para ajudar a organizar seu funcionamento.
“A área de estudos com plantas será cheia de surpresas. Pegaremos os reagentes e os conhecimentos desenvolvidos para humanos e usaremos em plantas. O ponto de partida será aquilo que já esperamos que aconteça, mas, acredite, o mais interessante será o inesperado”, disse Gileadi.


Leia mais sobre o novo centro em http://agencia.fapesp.br/19056.