quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Consumo de castanha-do-brasil pode melhorar função cognitiva

Por Hérika Dias - herikadias@usp.br

Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP mostrou que o consumo diário de uma castanha-do-brasil, conhecida por castanha-do-pará, recuperou a deficiência de selênio e ainda teve efeitos positivos sobre as funções cognitivas de idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL), considerado um estágio intermediário entre o envelhecimento normal e demências, como a Doença de Alzheimer.


A nutricionista Bárbara Cardoso explica que o CCL é caracterizado pela perda cognitiva (processo que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem) maior do que o esperado para a idade. “Pessoas com comprometimento cognitivo leve têm mais risco de desenvolver Alzheimer”, diz a pesquisadora e autora da tese de doutorado. Efeito do consumo de castanha-do-brasil (Bertholetia excelsa H.B.K) sobre o estresse oxidativo em pacientes com comprometimento cognitivo leve e a relação com variações em genes de selenoproteínas.




Entre as análises feitas pela nutricionista está a associação entre os níveis de selênio e o estresse oxidativo (excesso de radicais livres em comparação com o sistema protetor de cada célula) em pessoas com CCL.
Bárbara explica que o estresse oxidativo está envolvido no declínio cognitivo. Pacientes com comprometimento cognitivo leve ou Doença de Alzheimer apresentam maiores níveis de estresse oxidativo.
“Com o avanço da idade, os neurônios apresentam maior ineficiência no processo de produção de energia, com o aumento da geração de radicais livres. Já a capacidade do sistema antioxidante, que combate esses radicais, tende a reduzir. Esse descompasso contribui para o comprometimento cognitivo leve porque os radicais livres acabam afetando o sistema motor, sensorial, a memória e o aprendizado”, afirma Bárbara. 
O selênio é um importante mineral que constitui enzimas antioxidantes cuja finalidade é combater a formação de radicais livres. E os resultados da pesquisa indicam que o consumo da castanha-do-brasil pode melhorar a resposta antioxidante e atenuar o declínio cognitivo.


Metodologia


Foram selecionados 20 idosos de ambos os sexos, frequentadores do Ambulatório de Memória do Idoso, do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP, sendo que 95% deles apresentavam deficiência em selênio. “Esse alto índice era esperado, o solo da região Sudeste é pobre em selênio e a população de São Paulo tem tendência à deficiência de selênio”, conta Bárbara.
Durante seis meses, a nutricionista acompanhou dois grupos de idosos. O primeiro ingeriu uma castanha-do-brasil por dia e o outro não recebeu nenhuma intervenção. Após o período, no grupo que consumiu a castanha diariamente, todos deixaram de apresentar a deficiência de selênio.


Os grupos também passaram por avaliação neuropsicológica antes e depois da intervenção com a castanha-do-brasil. “Os testes analisaram domínios cognitivos, como a fluência verbal, capacidade de copiar desenhos, reconhecimento de figuras, entre outros. E o grupo que ingeriu a castanha apresentou melhora nos aspectos de fluência verbal, avaliada pelo número de animais que o entrevistado consegue mencionar durante um minuto, e praxia construtiva, avaliada pela capacidade do entrevistado em fazer cópia de quatro desenhos apresentados pelo examinador (círculo, losango, retângulos sobrepostos e cubo)”.
Segundo a nutricionista, “apenas uma unidade de castanha-do-brasil forneceu 288,75 microgramas de selênio ao dia, aumentando o consumo de selênio para além da recomendação diária (55 microgramas/dia), mas sem ultrapassar o limite tolerável de 400 microgramas”.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Programa de inserção no esporte melhora rendimento escolar

Por Hérika Dias - herikadias@usp.br
O investimento em programas públicos de iniciação esportiva pode influenciar nos resultados em sala de aula. Alunos que participam desses programas obtiveram melhor rendimento escolar. É o que mostra pesquisa de mestrado, que avaliou a relação dos gastos envolvidos nesse tipo de ação e seus resultados, apresentada no Programa de Pós-graduação Interunidades em Nutrição Humana Aplicada (PRONUT), que engloba as Faculdades de Saúde Pública (FSP), Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.
O estudo mostra a razão custo-efetividade da inserção esportiva, ou seja, quanto foi necessário gastar com recreação esportiva com cada criança para o aumento das notas. Em média, cada ponto de melhora no rendimento escolar nas notas de português foi associado a um custo de R$133,05 por criança por trimestre ou nas notas de matemática o valor de R$134,07.
Para chegar a esses números, a economista e autora da pesquisa Julia Guimarães Aranha acompanhou, durantes três meses, alunos de oito a dez anos de escolas de Indaiatuba, interior de São Paulo, que participavam do Programa de Recreação, Iniciação e Aperfeiçoamento (PRIA). Um programa da prefeitura da cidade voltado à inserção social e introdução de crianças em atividades esportivas fora da sala de aula.
“A proposta do estudo foi avaliar o PRIA quanto ao seu impacto sobre indicadores de estado nutricional, qualidade de vida e rendimento escolar das crianças em relação aos gastos públicos envolvidos”, explica Julia.

Cada um desses indicadores tiveram análises de diferentes variáveis, no caso do estado nutricional, foi considerado o Índice de Massa Corpórea (IMC) e a bioimpedância (BIA); para a qualidade de vida, foi aplicada a Escala de Avaliação de Qualidade de Vida (AUQEI, em francês) e para o rendimento escolar, foram utilizadas as notas de português e matemática.
Metodologia

A pesquisadora dividiu 86 estudantes em dois grupos: o primeiro que participaria do PRIA (grupo caso) e o segundo que não participaria (grupo controle). Foram realizadas aferições antropométricas e aplicados questionários socioeconômico e demográfico aos dois grupos antes dos alunos entrarem no programa de iniciação esportiva e após três meses. Também foi feita a avaliação econômica do PRIA com levantamento do custo do programa.
“A metodologia para avaliar a efetividade do PRIA utilizou o método de estimação Diferenças em Diferenças, bastante empregado na avaliação de políticas públicas. Assim conseguimos fazer modelos para medir os parâmetros do estado nutricional, qualidade de vida e rendimento escolar de cada um dos alunos dos dois grupos”, afirma Julia.
Resultado

Segundo a professora Denise Cavallini Cyrilo, orientadora da pesquisa, o estudo conseguiu verificar que o PRIA foi efetivo em termos de rendimento escolar, uma variável de inserção social, e também verificou o quanto a prefeitura de Indaiatuba deveria gastar por criança para contribuir com a melhoria do rendimento escolar.
O resultado mostrou que os alunos que participavam do programa melhoraram, em média, suas notas de português e matemática em 0,790 e 0,784, respectivamente. A partir desses valores, também foi realizada análise do custo-efetividade, avaliação econômica utilizada para programas públicos em diversas áreas.
“Medimos o custo médio da prefeitura com cada criança participante do PRIA e comparamos com o rendimento escolar. Descobrimos que o PRIA foi efetivo em termos de rendimento escolar por meio do esporte, do programa da Secretaria de Esportes da cidade de Indaiatuba”, ressalta Julia.
Para melhorar um ponto na nota de português de um aluno, a prefeitura deveria investir R$133,05 nas ações esportivas durante um trimestre; já na nota de matemática, o custo seria de R$ 134,07.
A professora Denise destaca que “em termos de estado nutricional e qualidade de vida, o período analisado foi insuficiente para verificar a efetividade do PRIA sobre essas duas variáveis”.
De acordo com a pesquisadora, apesar dos resultados estatisticamente não significantes, há indícios de que atividades esportivas também podem ter influência positiva sobre o estado nutricional e sobre a qualidade de vida. “Novos estudos são necessários a esse respeito avaliando-se períodos mais estendidos”, adverte Julia.

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