terça-feira, 28 de abril de 2015

Alteração comportamental de animais sinaliza, dias antes, a ocorrência de terremotos

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O dado de que alterações no comportamento dos animais sinalizam, com horas ou dias de antecedência, eventos como os terremotos já era conhecido. Especialmente noticiada foi a disparada dos elefantes asiáticos para terras altas por ocasião do terremoto seguido de tsunami de 26 de dezembro de 2004. Muitas vidas humanas foram salvas graças a isso. Mas tais eventos ainda não haviam sido documentados de maneira rigorosa e conclusiva. Nem fora estabelecida uma correlação de causa e efeito entre essa modificação do comportamento animal e fenômenos físicos mensuráveis. Isso ocorreu agora em pesquisa realizada por Rachel Grant, da Anglia Ruskin University (Reino Unido), Friedemann Freund, da agência espacial Nasa (Estados Unidos), e Jean-Pierre Raulin, do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (Brasil). Artigo relatando o estudo, “Changes in Animal Activity Prior to a Major (M=7) Earthquake in the Peruvian Andes”, foi publicado na revista Physics and Chemistry of the Earth. O físico Jean-Pierre Raulin, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, participou do estudo no contexto do projeto de pesquisa “Monitoramento da atividade solar e da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS) utilizando uma rede de receptores de ondas de muita baixa frequência (VLF) - SAVNET - South América VLF network”, apoiado pela FAPESP. “Nosso estudo correlacionou alterações no comportamento de aves e pequenos mamíferos do Parque Nacional Yanachaga, no Peru, com distúrbios na ionosfera terrestre, ambos os fenômenos verificados vários dias antes do terremoto Contamana, de 7,0 graus de magnitude na escala Richter, que ocorreu nos Andes peruanos em 2011”, disse Raulin à Agência FAPESP. 




Os animais foram monitorados por um conjunto de câmeras. “Para não interferir em seu comportamento, essas câmeras eram acionadas de forma automática no momento em que o animal passava na sua frente, registrando a passagem por meio de flash de luz infravermelha”, detalhou o pesquisador. Em um dia comum, cada animal era avistado de cinco a 15 vezes. Porém, no intervalo de 23 dias que antecedeu o terremoto, o número de avistamentos por animal caiu para cinco ou menos. E, em cinco dos sete dias imediatamente anteriores ao evento sísmico, nenhum movimento de animal foi registrado. Nessa mesma época, por meio do monitoramento das propriedades de propagação de ondas de rádio de muito baixa frequência (VLF), os pesquisadores detectaram, duas semanas antes do terremoto, perturbações na ionosfera sobre a área ao redor do epicentro. Um distúrbio especialmente grande da ionosfera foi registrado oito dias antes do terremoto, coincidindo com o segundo decréscimo no avistamento dos animais. Os pesquisadores propuseram uma explicação capaz de correlacionar os dois fenômenos. Segundo eles, a formação maciça de íons positivos, devido à fricção subterrânea das rochas durante o período anterior ao terremoto, teria provocado tanto as perturbações medidas na ionosfera quanto a alteração comportamental dos animais. A fricção é resultado da subducção ou deslizamento da placa tectônica de Nazca sob a placa tectônica continental. É sabido que a maior concentração de íons positivos na atmosfera provoca, seja em animais, seja em humanos, um aumento dos níveis de serotonina na corrente sanguínea. Isso leva à chamada “síndrome da serotonina”, caracterizada por maior agitação, hiperatividade e confusão. O fenômeno é semelhante à inquietação, facilmente perceptível em humanos, que ocorre antes das tempestades, quando a concentração de elétrons nas bases das nuvens também provoca um acúmulo de íons positivos na camada da atmosfera próxima ao solo, gerando um intenso campo elétrico no espaço intermediário. “No caso dos terremotos, cargas positivas formadas no subsolo devido ao estresse das rochas migram rapidamente para a superfície, resultando na ionização maciça de moléculas do ar. Em algumas horas, os íons positivos assim formados alcançam a base da ionosfera, localizada cerca de 70 quilômetros acima do solo. Esse aporte maciço de íons teria provocado as flutuações da densidade eletrônica na baixa ionosfera que detectamos. Por outro lado, durante o trânsito subterrâneo das cargas positivas, devido a uma espécie de ‘efeito de ponta’, a ionização tende a se acumular perto das elevações topográficas locais – exatamente onde estavam localizadas as câmeras. Nossa hipótese foi que, para se livrar dos sintomas indesejáveis da síndrome da serotonina, os animais fugiram para áreas mais baixas, onde a ionização não é tão expressiva”, explicou Raulin. “Acreditamos que ambas as anomalias surgiram a partir de uma única causa: a atividade sísmica causando estresse na crosta terrestre e levando, entre outras coisas, à enorme ionização na interface solo-ar. Esperamos que nosso trabalho possa estimular ainda mais a investigação na área, que tem o potencial de auxiliar as previsões de curto prazo de riscos sísmicos”, declarou Rachel Grant, principal autora do artigo. Independentemente da observação do comportamento animal, os resultados obtidos mostram que a previsão de terremotos poderia ser feita também mediante a detecção da ionização do ar, com o monitoramento do campo elétrico atmosférico. “Já temos detectores instalados no Brasil, no Peru e na Argentina. E pretendemos, em breve, instalar sensores de campo elétrico atmosférico nos lugares propícios a atividades sísmicas importantes. Isso daria uma previsibilidade da ordem de duas semanas ou até mais. Por ocasião do terremoto do Haiti, em janeiro de 2010, a rede SAVNET já tinha detectado flutuações na ionosfera com 12 dias de antecedência, com resultados publicados na revista NHESS – Natural Hazards and Earth System Sciences”, afirmou Raulin.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Influência Da Cultura No Comportamento Alimentar De Gestantes: Contribuições Para Enfermagem

Resumo da autora


As escolhas alimentares humanas estão associadas a diversas influências de ordem social, cultural e histórica, além do campo biológico. As influências culturais indicam os alimentos aceitos e os alimentos proibidos e traduzem os significados e os modos de vida de um grupo em particular. Para as gestantes, que vivenciam um período de constantes transformações e readaptações, o cenário social em que vivem e a história cultural sinalizam quais saberes e práticas alimentares estão de acordo para a manutenção da saúde. Este estudo teve como objetivo apreender as influências culturais no comportamento alimentar de gestantes. Para tanto, optou-se pela pesquisa de campo, com abordagem qualitativa e vertente etnográfica. O método da etnoenfermagem, por meio da observação participante e da entrevista, possibilitou a identificação e a compreensão de significados, crenças e hábitos que determinam o comportamento alimentar das gestantes. Participaram do estudo três gestantes com idade gestacional inferior a 30 semanas, moradoras da região norte de Santa Maria, Rio Grande do Sul, e assistidas pela enfermeira durante o pré-natal. O cenário do estudo contemplou o consultório de enfermagem e o domicílio das gestantes. A coleta de dados ocorreu de março a maio de 2010, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria. Como resultados foram constituídas três categorias: “dos saberes aos sabores: as práticas alimentares das gestantes”; “entre desejos e possibilidades: as adaptações alimentares durante o período gestacional”; e “o aumento de peso gestacional: um olhar sobre a doença, um olhar sobre a vaidade”. 

Evidenciou-se que o comportamento alimentar das gestantes está imbricado a múltiplos significados culturais. A memória, as tradições, as relações sociais e familiares, a mídia e as noções de saúde, doença e estética representam os núcleos centrais para as conformações alimentares. O enfermeiro que realiza o cuidado pré-natal, ao atentar para a cultura das mulheres e de suas famílias, vislumbra a motivação das escolhas alimentares e pode, dessa forma, reorientar ou preservar o consumo de determinados alimentos, além de identificar e prevenir possíveis riscos nutricionais. Ao valorizar as práticas alimentares e os significados atribuídos aos alimentos, o enfermeiro aproxima, estrategicamente, os saberes profissionais aos saberes populares, incidindo num cuidado cultural à gestante. Texto completo: Influência Da Cultura No Comportamento Alimentar De Gestantes: Contribuições Para Enfermagem

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estudo traz dados inéditos para restauração de florestas

Resumo da autora:

A restauração ecológica, ao buscar a manutenção de processos ecológicos e serviços ecossistêmicos, vem exercendo um importante papel na recuperação de ecossistemas degradados e conservação da biodiversidade. Restabelecer as interações entre organismos pode, contudo, ser uma tarefa mais árdua em ambientes de alta diversidade com complexas relações ecológicas como as florestas tropicais. Neste trabalho, investigamos a resposta dos insetos visitantes florais à restauração por plantio de mudas de espécies de Floresta Estacional Semidecidual, uma vez que o restabelecimento do processo de polinização é imprescindível para a perpetuação da floresta implantada. Para isso, foram examinados diferentes aspectos das comunidades de plantas e visitantes florais em seis áreas em processo de restauração. Primeiramente, buscouse analisar a estrutura da comunidade de visitantes florais e seus padrões de visita às flores, avaliandose também se a proximidade de fragmentos de vegetação nativa é importante na determinação da estrutura destas comunidades. Além disso, investigamos as espécies vegetais que florescem nos estágios iniciais de restauração para verificarmos se a comunidade de plantas se restabelecendo em cada local é importante na determinação da comunidade de visitantes. Por fim, avaliamos o restabelecimento do processo de polinização ao averiguar o transporte de pólen ocorrendo nas áreas restauradas e ao examinar a robustez das redes formadas frente à extinção simulada de espécies. Todas as áreas analisadas apresentaram redes de interação plantavisitante floral com estrutura e atributos comuns a outras redes mutualísticas de polinização, indicando que o processo deve estar se restabelecendo. A diferença na composição de espécies de visitantes não resultou em diferenças nos atributos das redes e a distância das áreas restauradas a fragmentos de vegetação nativa não influenciou a composição da comunidade de visitantes. Por outro lado, a vegetação regenerante composta por espécies ruderais aumentou a diversidade de visitantes e também a complexidade das redes de interação planta visitante floral, afetando a composição e provavelmente o funcionamento das comunidades. Embora tanto as redes de visitação quanto as de transporte de pólen revelem comunidades funcionalmente complexas com um número relativamente diverso de interações entre plantas e potenciais polinizadores, os dados de visitação demonstraram que nem todas as áreas possuem o mesmo padrão de resposta à extinção simulada de espécies. A presença massiva de gramíneas é provavelmente um fator determinante da robustez destas redes já que ela dificulta a regeneração natural das espécies ruderais que contribuem para o maior aporte de recursos florais para os insetos visitantes. Este trabalho demonstra a importância de se avaliar a recuperação dos aspectos funcionais de ecossistemas restaurados e tem implicações práticas para o manejo de áreas restauradas onde houver preocupação particular com a recuperação das interações plantapolinizador. Enfatizamos a importância do monitoramento constante de áreas restauradas para melhor entendermos as trajetórias de recuperação das florestas tropicais e recomendamos estudos multidisciplinares que integrem diversas áreas de conhecimento para aperfeiçoarmos as ações de restauração

acesso a Tese de Fragoso, Fabiana Palmeira