quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Os sentidos do “jeitinho brasileiro” em nossa cultura

Por Valéria Dias - valdias@usp.br


O “jeitinho brasileiro” é usado para definir tanto as situações positivas como as negativas: a criatividade ao resolver conflitos e até ao falarmos de corrupção. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pesquisa apresenta as diversas nuances dos sentidos que o “jeitinho brasileiro” pode ter na cultura brasileira e mostra outras possibilidades de se expressar diante de tais situações.
“A ideia é mostrar a existência de outras palavras e expressões que trazem uma maior precisão para o entendimento de um determinado fato”, destaca a autora do estudo, a professora de inglês Valquiria da Silva Moisés. As palavras que ela sugere são: solidariedade, sobrevivência, habilidade, criatividade, flexibilidade, improvisação, charme, simpatia, malandragem, prevaricação, hipocrisia, flexibilidade moral. Ela ressalta, no entanto, que há uma linha muito tênue entre essas palavras e, por isso, fica difícil estabelecer uma ordem muito rígida entre elas.
A pesquisadora se baseou na representação gráfica criada por Livia Barbosa, antropóloga que propõe uma sistematização do “jeitinho brasileiro” a partir de um continuum que vai do favor (positivo), passando pelo jeito (que pode ser positivo ou negativo) até a corrupção (negativo). Valquíria ampliou esse continuum e identificou palavras que poderiam se encaixar nessa sistematização.
Para isso, ela fez um levantamento de vários trabalhos nas áreas corporativa, administração, ciências sociais, letras, literatura, comunicação e semiótica. Foi realizado um estudo léxico (conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto) levando em conta a semiótica discursiva francesa do linguísta Algirdas Julius Greimas, que “tem o texto como seu objeto e procura explicar os seus sentidos, isto é, o que o texto diz, e os mecanismos e os procedimentos que constroem esses sentidos”, explica Valquíria. A pesquisadora também selecionou músicas, textos e até fatos históricos sobre o tema.




Texto completo: 
 Do jeitinho brasileiro ao Brazilian little way: uma leitura semiótica

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Novo método facilita classificação de textos

Por Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação ICMC
comunica@icmc.usp.br


Imagine que você é dono de uma empresa e quer medir o grau de satisfação dos seus clientes nas redes sociais. Como filtrar rapidamente, entre milhares de publicações, os comentários positivos e negativos sobre sua marca? Uma técnica desenvolvida por um aluno de doutorado do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, promete facilitar esse trabalho. 

O criador do modelo, Rafael Rossi, escreveu um artigo científico mostrando os resultados obtidos e foi um dos dois premiados na 16th International Conference on Intelligent Text Processing and Computational Linguistics, uma das principais conferências de linguística e mineração de textos do mundo, realizada em abril, no Egito. Foram 62 países participantes e 329 artigos enviados à conferência. Apenas 95 deles foram aceitos e destes, dois premiados.

Para identificar quantas pessoas estão elogiando ou criticando um produto em uma rede social, por exemplo, basta o empresário selecionar alguns comentários bons e outros ruins sobre sua empresa. Com a técnica criada por Rossi, é possível identificar os termos utilizados pelos usuários nesses comentários e classificar, automaticamente, todos os demais depoimentos em positivos ou negativos.



Para tornar essa classificação viável, o doutorando desenvolveu um algoritmo, uma sequência de comandos que é passada para o computador a fim de definir uma tarefa. Nesse caso, a tarefa é classificar textos baseando-se em uma rede de termos. Com esse algoritmo, é possível rotular e organizar uma grande quantidade de textos a partir de poucas unidades previamente classificadas.

“Hoje em dia, com a grande quantidade de textos encontrados em diversos tipos de plataformas, é humanamente impossível organizar, processar e extrair conhecimento de todos eles”, conta o estudante, que é bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Foco no que interessa

A grande quantidade de informações a que um leitor está exposto quando realiza uma simples pesquisa na internet muitas vezes atrapalha e desvia seu foco. O modelo proposto por Rossi contribui para agilizar e facilitar esse processo.

“O diferencial do trabalho é que ele não considera apenas a frequência dos termos nos documentos, que é o mais comum nesse tipo de pesquisa. Leva-se em conta também a relação entre termos para realizar a classificação dos textos”, explica a orientadora do projeto, Solange Rezende, do ICMC. A professora diz ainda que, dessa forma, o que não é de interesse do leitor é automaticamente descartado. No trabalho, Solange e Rossi contam ainda com o apoio do professor Alneu Lopes, também do ICMC.

Outra possível aplicação do método é na organização de uma biblioteca virtual. O algoritmo consegue identificar e organizar os gêneros de uma grande quantidade de livros através de termos retirados de alguns exemplares anteriormente classificados. Assim, a separação dos livros por temas é facilitada.

O doutorando, que recebeu o prêmio pelo artigo Term Network Approach for Transductive Classification, defenderá sua tese nos próximos meses no ICMC.